45% dos inadimplentes não têm condições de pagar suas dívidas nos próximos três meses

SÃO PAULO – “Devo, não nego. Pago quando puder”. A famosa expressão descreve bem como muitos brasileiros se encontram atualmente.
Diante do agravamento da crise econômica, mais consumidores têm enfrentado dificuldades para colocar a vida financeira em ordem.
Um estudo realizado pelo Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil) e pela Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL) em todas as capitais revela que quatro em cada dez (45%) brasileiros inadimplentes não têm condições financeiras de pagar suas dívidas atrasadas em um intervalo de até três meses.
O levantamento mostra também que a perspectiva de continuar inadimplente é mais frequente nas classes C, D e E (46%) do que nas classes A e B (32%). Além disso, 44% dos devedores ouvidos pelo SPC Brasil afirmaram que a situação financeira atual deles está pior se comparada ao ano passado.
Quando indagados sobre os principais empecilhos para realizarem o pagamento dos débitos, a maioria dos consumidores (52%) justifica que a dívida contraída é muito superior aos seus ganhos mensais, mas há também aqueles que relutam em incorporar hábitos de economia no dia a dia, como deixar de consumir produtos que gostam (23%).
“A resistência em cortar despesas e em mudar o padrão de consumo, abrindo mão de pequenos prazeres, são alguns dos erros mais comuns para quem precisa sair do vermelho. O dado revela um comportamento imprudente e de alto risco para as finanças”, alerta a economista-chefe do SPC Brasil, Marcela Kawauti.

Brasileiro deve duas vezes de meia a própria renda
A dívida do brasileiro está mais cara. Na comparação entre 2014 e 2015, o valor médio das dívidas em atraso passou de aproximadamente R$ 4 mil para R$ 5,4 mil, o que representa um aumento real, já descontada a inflação, de 23%.
Ao cruzar os valores médios dos compromissos pendentes e a renda média dos entrevistados, a pesquisa verificou que o montante das obrigações financeiras representa duas vezes e meia o valor da renda familiar mensal no país.
Considerando, por exemplo, as famílias que têm uma remuneração de um a dois salários mínimos (entre R$ 789 e R$ 1.576,00), a dívida equivale a quase quatro vezes o valor da renda (R$ 4,4 mil).
O mau uso do chamado ‘dinheiro de plástico’ é o principal responsável pela inadimplência do consumidor brasileiro. As parcelas a pagar no cartão de crédito, citadas por 42% dos inadimplentes, ao lado das parcelas no cartão de lojas (41%), são as contas que mais resultaram na inclusão do nome em instituições de proteção ao crédito.
“Para quem sabe utilizar com prudência, o cartão de crédito pode ser um grande aliado porque traz conveniência e segurança. O grande erro é não quitar o valor integral da fatura e cair no efeito bola de neve do rotativo”, afirma a economista Marcela Kawauti.
Os empréstimos junto aos bancos e financeiras (25%), as contas de telefone (11%), a utilização do cheque especial (10%) e as parcelas a pagar no carnê, boleto ou cheque pré-datado (10%) completam o ranking dos atrasos que motivaram a inadimplência.
Para as mulheres, o atraso das faturas do cartão de loja é o que mais se destaca na comparação com os homens (46% contra 33%), enquanto entre a parcela masculina de entrevistados, o destaque é o não pagamento de empréstimos em bancos e financeiras (32% contra 20% das mulheres).

47% já ficaram com o nome sujo mais de duas vezes
O estudo revela que as mulheres representam 60% dos inadimplentes entrevistados. Dentre os que possuem contas em atraso, a faixa que mais se destaca é a de pessoas com idade entre 25 e 34 anos (37%) e 79% possuem no máximo o ensino médio completo. Além disso, 47% são reincidentes.
Ou seja, já estiveram com o ‘nome sujo’ pelo menos duas vezes nos últimos cinco anos. Já em relação à classe social, a pesquisa de 2015 mostrou uma diferença significativa com a do ano passado. Em 2014, as pessoas da classe C representavam 86% dos inadimplentes brasileiros, hoje eles são 90% do total de devedores.

Estratégias para renegociar a dívida
Dentre os consumidores que reúnem condições para o pagamento da dívida atrasada (52%), a estratégia mais comum é o acordo junto aos credores (37%), segundo apurou a pesquisa. Em seguida aparecem os cortes no orçamento (11%) e as atividades extras para geração de renda, como o famoso ‘bico’ (9%).
Dentre os entrevistados que pretendem economizar para deixar a inadimplência, 60% dizem que vão cortar despesas de lazer, mas também são mencionados os cortes nos gastos com vestuário e calçados (45%), alimentação fora de casa (34%) e produtos de beleza (23%).