Saga de um vencedor
Rogério J. Lorenzetti*
Paulo Dias, meu sogro, tem uma história de vida e superação de dificuldades que merece ser registrada. Nascido em um lugarejo de Portugal foi uma criança como tantas outras oriundas deste pequeno país da Europa.
Criado em uma família tradicional onde era o único filho varão, desde pequeno tinha que dividir a escola com o trabalho duro nas montanhas pastoreando cabras.
Relatava a dificuldade de manter o seu almoço a salvo dos animais, e mostrava os sinais de pedradas trocadas com colegas na saída da escola e durante as brincadeiras no Vale de Pedro Anes, freguesia do Carvoeiro, Conselho de Mação, província da Beira Baixa.
Dizia em tom de brincadeira que "português não teme pedras" pois lá, além das brincadeiras e brigas com elas, tinham que retirá-las do campo, preparando o solo para o cultivo. Trabalhou duro até a decisão da vinda para o Brasil aos 17 anos. Pediu ao pai a permissão para tanto e, como a família era de poucas posses, teve que emprestar o dinheiro para custear a viagem.
Conseguiu uma carta de recomendação, nome dado ao documento que garantia trabalho na sua estada aqui. No início na cidade de Votuporanga (SP), onde começou a trabalhar na empresa Dias Martins como ajudante. Apesar da sua estatura pequena e franzina, tinha que descarregar sacos de mercadoria pesando mais de cinquenta quilos.
Logo conseguiu ganhar a confiança dos patrões pela sua honestidade e vocação para o trabalho, sendo promovido a vendedor e ganhando uma linha de vendas em São Paulo. A seguir ofereceram um estoque para que ele montasse seu próprio negócio.
Vindo se estabelecer em São João do Caiuá, onde, durante as viagens para adquirir produtos, conheceu a família do sr. José Francisco, português, comerciante, radicado em São Jorge do Ivaí (PR), ocasião em que veio a namorar e casar com sua amada Noemia, moça prendada filha do amigo.
O casal trabalhou duro, Noemia ajudava na loja de secos e molhados enquanto seu Paulo iniciava sua vida como produtor de café em uma pequena propriedade adquirida com o resultado do comércio.
Como pessoas de visão, dedicadas ao trabalho, conseguiram, inicialmente com boas produções e preços do café, depois com a pecuária bem conduzida, amealhar patrimônio e criar duas filhas, sempre dando a elas a atenção e o cuidado necessário à boa formação que tiveram.
Além de um pioneiro, foi um homem exemplar, unindo qualidades excepcionais em uma única pessoa. Bom pai, esposo amoroso, amigo para todas as horas, profissional zeloso, cumpridor de seus deveres, humilde e bom para as pessoas que tiveram o privilégio da sua companhia.
Vai-se uma grande alma, mas fica o exemplo de um homem corajoso e correto, virtudes necessárias, mais do que nunca, nestes tempos áridos que vivemos, onde a esperteza e desonestidade ganham espaço e parecem superar os bons valores que devem nortear a conduta das pessoas para construirmos um mundo melhor e mais justo.
*Rogério J. Lorenzetti, ex-prefeito de Paranavaí, período de 2009/2016