A reserva de mercado na Saúde
Dirceu Cardoso Gonçalves*
Dezenas de ações tramitam pela justiça brasileira, onde médicos contestam o direito de farmacêuticos e biomédicos atenderem pacientes em suas respectivas áreas de atuação. A tese é de que ao tratar os sintomas o profissional da farmácia pode retardar o diagnóstico das doenças, e de que não é aceitável o laudo de citopatologia assinado pelos biomédicos.
Pelo que se denota, é a luta de classe e de reserva de mercado que se sobrepõe ao interesse da sociedade e, principalmente, do paciente. Repete-se o tempo de restrições em que as farmácias foram impedidas, até, de aferir a pressão de seus clientes, obrigando-os a cair nas filas dos ambulatórios e pronto-socorros.
Devido a escassez de médicos, a saúde da população brasileira esteve, durante muito tempo, entregue aos cuidados dos farmacêuticos que até algumas décadas atrás eram procurados e só encaminhava o paciente para o médico quando não dispunham de meios e conhecimentos próprios para resolver seu problema.
Com o desenvolvimento, o número de médicos foi aumentando e os seus serviços tornando-se mais disponíveis. Aí se travou a batalha dos doutores contra os farmacêuticos que, segue até hoje. Diferentes regulamentações buscam a convivência entre as classes, mas a prática demonstra a dificuldade de entendimento.
Hoje os farmacêuticos e biomédicos têm seus direitos de atuação reconhecidos em lei, mas os médicos os contestam judicialmente. E quem sofre com isso é a população.
Hoje temos 83% dos atendimentos nos prontos socorros de pacientes com transtornos menores, que poderiam ser atendidos em farmácias ou pequenas clinicas. Nos países desenvolvidos existe um fluxograma no sistema de saúde que obedece a lógica da capilaridade, sendo o primeiro atendimento nas farmácias, na sequencia em pequenas clínicas, prontos socorros e hospitais.
Estamos praticando exatamente o inverso, temos aproximadamente 80.000 farmácias no país, a farmácia é hoje o ultimo elo da cadeia da saúde, basicamente faz a dispensação do medicamento, do outro lado temos 6.667 hospitais segundo o CNS 2010, e este dá o mesmo atendimento aos transtornos menores e aos maiores, o que provoca improdutividade em todo o processo de atendimento e acesso à saúde por parte do paciente.
Acima das disputas classistas, todos precisam pensar no atendimento ao paciente, razão única da existência do sistema. Melhor do que dividir, o ideal é somar esforços para obter a melhor prestação de serviços…
*Dirceu Cardoso Gonçalves – dirigente da ASPOMIL (Associação de Assist. Social dos Policiais Militares de São Paulo)