O desinteresse do eleitor
A estatística do Tribunal Superior Eleitoral diz que a soma da abstenção e dos votos nulos e brancos é de 32,8% do eleitorado registrado nas 57 cidades que tiveram segundo turno para a eleição de prefeito. No Rio de Janeiro e Mauá (SP), passou dos 41% e em São Bernardo do Campo (SP) foi de 42,3%.
Isso quer dizer que nessas localidades, a soma dos que não compareceram ou deixaram de escolher um dos candidatos é maior do que os votos obtidos pelos vencedores do pleito. Joga por terra o argumento que lastreia a existência do segundo turno, de que com esse mecanismo o eleito é mais representativo porque recebeu a maioria absoluta dos votos, isto é, mais de 50%.
Os percentuais que se contabiliza são dos votos válidos pois, se incluísse como universo a totalidade do eleitorado, o maior volume seria de abstenção, brancos e nulos.
Afora a rejeição ao Partido dos Trabalhadores, pelas razões que todos conhecemos, há que se observar o desinteresse do eleitorado pela eleição como um todo. Ano após ano, desde que o número começou a ser contabilizado, cresce a ausência às urnas e a não opção por um dos concorrentes.
É um dado que os estudiosos da matéria não podem ignorar e os responsáveis pelo processo precisam considerar para a busca de aperfeiçoamento. É inegável que também há a parte da classe política, que precisa encontrar os meios de reacender no eleitor a vontade de participar e, através do voto, interferir nos destinos de sua comunidade.
Diferentes dos seus antecessores, os prefeitos agora eleitos, que tomarão posse a 1º de janeiro, não terão direito à reeleição. Isso é bom porque se preocuparão apenas com a administração e não com a atração de votos para o segundo mandato. Poderão, inclusive, fazer governos mais transparentes, dizendo claramente à população o que é possível e o que não dá para executar.
Da mesma forma, os futuros vereadores terão uma nova motivação para o trabalho, pois dentre eles poderá sair o governante do futuro quatriênio.
A eleição concluída nesse 30 de outubro traz uma série de indicativos que, bem analisados, poderão contribuir para a reforma político-eleitoral. A reeleição já acabou para prefeito e precisa também ser extinta para presidente da República e governador de Estado.
A conveniência do segundo turno e outra questão a se discutir. Além dessas, há que se pensar muito na utilidade do voto obrigatório. Melhor do que obrigar o eleitor a votar contrariado, seria criar um clima positivo para que ele tivesse interesse em comparecer e eleger o candidato de sua preferência. Isso faria muito bem ao Brasil…
*Dirceu Cardoso Gonçalves – dirigente da ASPOMIL (Associação de Assist. Social dos Policiais Militares de São Paulo)