“A gente” matou o “Nós”
Renato Benvindo Frata
Pois é, “a gente” conseguiu matar o pronome pessoal do caso reto “nós” e ninguém se importou. Nem as autoridades educacionais que têm por função e obrigação o trato e zelo da língua falada e escrita. Nenhum professor, suporte da cultura, – do o maternal ao pós-doutorado -, se lembrou de que o empobrecimento da língua induz ao empobrecimento do espírito. O fato é que a violência ao vernáculo se fez e nos deixou mais pobres.
Outro dia, em 10 minutos do programa Encontro, contei que Fátima Bernardes e seus convidados expressaram 39 vezes “a gente”, referindo-se ao pronome pessoal “nós”. A gente foi, a gente veio, a gente fez, a gente vai fazer. Depois observei que a expressão “a gente” está na boca dos repórteres, dos apresentadores, novelistas, atores, parecendo que todos – e de todas as redes televisivas – se irmanaram na pobreza da língua, o que é uma pena.
Talvez o façam em busca da popularidade sabendo-nos pobres de espírito e de bens, o que se reflete em audiência que se reflete nos patrocínios e estes nos seus salários, numa cadeia de interesses que se desemboca para o sepultamento da língua culta, infelizmente.
Considerando que o programa da Fátima seja de 2 horas e delas 45 minutos são consumidos por comerciais, tem-se 75 minutos enxutos de programa, e aí buscamos auxílio da regra de três para chegar ao raciocínio de que se em 10 minutos repetiu-se 39 vezes “a gente”, em 75 teriam falado 292,50 vezes. Porém, se considerarmos esse número por 5 dias da semana e por 12 meses do ano, alcançamos a soma de 24.862,50 vezes que “a gente” substituiu o “nós” e invadiu nossos ouvidos carentes da riqueza da língua. Como a televisão trabalha 24 horas, imagine-se o resultado.
Afinal, é errado falar “a gente” em substituição ao pronome pessoal “nós”?
“Nós” indica ideia de grupo e a “a gente” é substantivo que desempenha função de locução pronominal. Ao exercê-la adquire o valor semântico do nós passando a ser sinônimos, deixando corretas ambas as formasde expressão. Então, por que a celeuma?
Ao se dizer: nós comemos alface ou, a gente comeu alface, mudou-se a conjugação do verbo: 1) com o pronome nós utilizado com o verbo na primeira pessoa do plural e 2) com a locução a gente acompanhada do verbo na terceira pessoa do singular. A norma culta da língua que carrega a rigidez das normas gramaticais, exige o uso do pronome. Todavia, a Sociolínguística que trata da relação entre língua e fatores sociais o despreza, não exigindo atenção à gramática.
Nesse tempo de mudanças na política econômica e quiçá na educação com reflexo na cultura em busca um melhor país, penso serconveniente a reflexão em favor da nossa língua, talvez envolvendo os meios de comunicação -, que bons serviços prestam quando querem ou são pagos para isso -, condicionada às saudáveis concessões de serviço – deveriam difundir a norma culta mesmo em programas populares como os da Fátima, Faustão, Eliana e companhia, na ausência de melhores. Mesmo que para isso seja necessária a reciclagem de repórteres, agentes, apresentadores, diretores, câmeras, ajudantes de palco, sem exceção, com o fim de induzir a que aprendêssemos a nos expressar melhore a custo zero, considerando queo modo culto e o coloquial consomem o mesmo tempo.
Mas aí acho, esbarraríamos num grande problema: como ensinar a certos dirigentes palacianos a esquecer a sua pobreza de espírito que os leva a dizer “a gente fizemos”, “a gente ponhou”, “a gente fomos”, e viver a nobreza da língua culta?
Melhor cuidar para que no sepultamento do pronome o verbo hoje tão massacrado, não caia na mesma vala…
Outro dia, em 10 minutos do programa Encontro, contei que Fátima Bernardes e seus convidados expressaram 39 vezes “a gente”, referindo-se ao pronome pessoal “nós”. A gente foi, a gente veio, a gente fez, a gente vai fazer. Depois observei que a expressão “a gente” está na boca dos repórteres, dos apresentadores, novelistas, atores, parecendo que todos – e de todas as redes televisivas – se irmanaram na pobreza da língua, o que é uma pena.
Talvez o façam em busca da popularidade sabendo-nos pobres de espírito e de bens, o que se reflete em audiência que se reflete nos patrocínios e estes nos seus salários, numa cadeia de interesses que se desemboca para o sepultamento da língua culta, infelizmente.
Considerando que o programa da Fátima seja de 2 horas e delas 45 minutos são consumidos por comerciais, tem-se 75 minutos enxutos de programa, e aí buscamos auxílio da regra de três para chegar ao raciocínio de que se em 10 minutos repetiu-se 39 vezes “a gente”, em 75 teriam falado 292,50 vezes. Porém, se considerarmos esse número por 5 dias da semana e por 12 meses do ano, alcançamos a soma de 24.862,50 vezes que “a gente” substituiu o “nós” e invadiu nossos ouvidos carentes da riqueza da língua. Como a televisão trabalha 24 horas, imagine-se o resultado.
Afinal, é errado falar “a gente” em substituição ao pronome pessoal “nós”?
“Nós” indica ideia de grupo e a “a gente” é substantivo que desempenha função de locução pronominal. Ao exercê-la adquire o valor semântico do nós passando a ser sinônimos, deixando corretas ambas as formasde expressão. Então, por que a celeuma?
Ao se dizer: nós comemos alface ou, a gente comeu alface, mudou-se a conjugação do verbo: 1) com o pronome nós utilizado com o verbo na primeira pessoa do plural e 2) com a locução a gente acompanhada do verbo na terceira pessoa do singular. A norma culta da língua que carrega a rigidez das normas gramaticais, exige o uso do pronome. Todavia, a Sociolínguística que trata da relação entre língua e fatores sociais o despreza, não exigindo atenção à gramática.
Nesse tempo de mudanças na política econômica e quiçá na educação com reflexo na cultura em busca um melhor país, penso serconveniente a reflexão em favor da nossa língua, talvez envolvendo os meios de comunicação -, que bons serviços prestam quando querem ou são pagos para isso -, condicionada às saudáveis concessões de serviço – deveriam difundir a norma culta mesmo em programas populares como os da Fátima, Faustão, Eliana e companhia, na ausência de melhores. Mesmo que para isso seja necessária a reciclagem de repórteres, agentes, apresentadores, diretores, câmeras, ajudantes de palco, sem exceção, com o fim de induzir a que aprendêssemos a nos expressar melhore a custo zero, considerando queo modo culto e o coloquial consomem o mesmo tempo.
Mas aí acho, esbarraríamos num grande problema: como ensinar a certos dirigentes palacianos a esquecer a sua pobreza de espírito que os leva a dizer “a gente fizemos”, “a gente ponhou”, “a gente fomos”, e viver a nobreza da língua culta?
Melhor cuidar para que no sepultamento do pronome o verbo hoje tão massacrado, não caia na mesma vala…