No meio do caminho, as pedras do Velho Chico

Renato Benvindo Frata

Carlos Drummond de Andrade cantou a pedra no poema “No meio do caminho”; e o fez para que ninguém pusesse defeito nos seus versos que dizem que suas retinas fatigadas viram a tal pedra e a sentiram na profundidade que a alma tem.
A simbologia ali retrata os problemas da vida, da seca, do retirante, da angústia da sede. E tudo que represente obstáculo, dor íntima ou corporal. Lindo poema.
O que é uma pedra senão um pedaço de rocha? Para o poeta que não tem venda no coração e que seu sangue é impulsionado pela bomba da inspiração, a pedra pode representar mil coisas: do pecado à salvação.
O interessante é que semana passada duas pedras ganharam conotação de notícia nacional, com algum respingo na imprensa estrangeira.
Mais interessante ainda é que uma delas teria servido de obstáculo ao ator global Domingos Montagner, o Santo da novela “Velho Chico”, no seu desastroso afogamento. O corpo do ator foi encontrado enroscado sob uma fenda de pedra, no fundo do rio, a 18 metros de profundidade.
A outra pedra, veja-se o contraste: serviu de apoio e consequente salvação de sua companheira de passeio, a não menos importante no mundo artístico Camila Pitanga, a Maria Teresa do mesmo folhetim.
Enquanto uma serviu de enrosco, podendo ter ajudado no fatídico afogamento porque o condutor teria sido um redemoinho, a outra foi o amparo da atriz, salvando-a. – À medida que uma matava, a outra amparava, num mesmo momento, num trisco de tempo. É ou não de se pensar?
– O Santo errou de pedra, teria dito o Zé Simão, com seu humor negro e debochado.
Sem adentrar nas causas, compromissos, histórias e fofocas dos motivos que levaram os atores ao ermo “detrás das pedras” para um mergulho em um certo recanto do São Francisco, num local vizinho ao das gravações, melhor focar a pedra enquanto pedaço de rocha. Longe de mim falar sobre Pedra de escândalo; cada um que julgue como quiser e arque com a consciência. E que se puder, que atire a primeira pedra.