O trânsito e os rachadores

Dirceu Cardoso Gonçalves*

O crescente número de “rachas” automobilísticos pelo país – 363 ao dia, segundo o noticiário – é um grave problema. Motoristas usam a via pública para exibir as habilidades que muitas vezes não possuem e acabam provocando acidentes e mortes de terceiros sem qualquer relação com suas disputas bestiais.
Esse quadro demonstra a necessidade de se fazer mais do que o combate à mistura álcool-direção, que nos últimos tempos se tornou mais rígida. Diferente dos bêbados que acabam se envolvendo em acidentes, os rachadores são verdadeiros criminosos, pois sabem que a prática é proibida, mas mesmo assim insistem e assumem o risco.
Na vertente dos direitos sem deveres que, infelizmente, assola o Brasil desde que os governantes abriram mão de princípios básicos para se diferenciarem dos governos militares, criamos motoristas exibicionistas, que pretendem se sobressair com manobras radicais em plena via pública.
Transformam o veículo de equipamento de transporte em arma mortal e nem sempre pagam pelo mal que fazem ao conjunto da sociedade. É preciso fazer algo mais em termos de educação, fiscalização e punição para conter o uso esportivo do veículo.
Evitar que motoristas despreparados tentem se exibir nas ruas e avenidas as manobras que vêem nos filmes de ação, normalmente rodados em circuito fechado ou com truques que tornam emocionantes na tela imagens cuidadosamente elaboradas para desencadear a adrenalina do expectador. O veículo colocado na rua não pode ter função além da de transportar seus ocupantes e o que exceder disso será ilegal.
É preciso encontrar um meio de conter os rachadores. Com a grande quantidade de radares e câmeras hoje existentes nas vias públicas, não deve ser difícil identificar aqueles que estão dirigindo esportivamente. Mas a punição aos errantes não pode ficar apenas na multa que muitas vezes tem apenas o objetivo arrecadatório e não chega a coibir o mal.
O motorista flagrado em direção esportiva nas vias públicas tem de ser processado e correr o risco de, além dos prejuízos pecuaniários, ter a sua liberdade ameaçada. Porém, não basta colocar os fiscais na rua. É do interesse social, desenvolver campanhas de conscientização tanto do condutor do veículo quanto do pedestre e, até, apelar pela paz no trânsito. Enfatizar que a única utilidade do veículo é transportar seus passageiros e que o relacionamento destes com os demais deve acontecer através de fatores pessoais, jamais automotivos…

*Dirceu Cardoso Gonçalves – dirigente da ASPOMIL (Associação de Assist. Social dos Policiais Militares de São Paulo)