PERDÃO E COMPREENSÃO

Por muito tempo eu pratiquei e acreditei que podia me libertar da culpa através do perdão e que só o perdão seria o suficiente para ter a paz interior e a superação do ressentimento. Mas, os anos de estudo, a busca do conhecimento de como a mente funciona, tem ajudado muito a perceber que existe outro elemento muito poderoso para a superação da culpa, dos ressentimentos: a compreensão.

Prova de que o perdão, por mais verdadeiro que pareça, por mais desejado pela pessoa, muitas vezes a culpa permanece. Basta ver quantas pessoas têm necessidade de se confessar várias vezes o mesmo pecado. Claro, tem também outro aspecto que muitos não aplicam: o perdão a si mesmo. Sentem que foram perdoados por Deus, pela pessoa ofendida, se assim tem a ver o pecado, mas não perdoam a si mesmos. Tem muito a ver com a falta de amor a si mesmos também.

Não estou aqui negando o valor e a importância do perdão para aqueles que acreditam na misericórdia de Deus. Sei o quanto essa experiência de ouvir, “vai em paz, teus pecados estão perdoados”, é libertador, confortante e renovador. Tanto é que Jesus falou diversas vezes sobre isso, bem como praticou, dizendo para a mulher pecadora: “Teus pecados estão perdoados, tua fé te salvou”, bem como para um paralítico carregado por quatro homens e colocado na sua frente. Jesus também concedeu autoridade aos seus discípulos de perdoarem os pecados. Logo, não deixo de reconhecer a validade dos exercícios penitenciais praticados nas diversas religiões.

Qual o papel e a importância da compreensão?

Eu teria uma quantidade de exemplos onde a compreensão foi fundamental para a superação da culpa. Pessoas que já se arrependeram, pediram perdão, mas continuam se culpando, sentindo a necessidade de penitenciar-se, até castigando-se pelo que fizeram. É evidente que pode estar por trás disso a baixa autoestima, a atitude do não merecimento de ser feliz ou de receber uma nova chance. Mas quando levamos as pessoas à compreensão, sentem que não existe mais a necessidade de perdão.

Fazer a compreensão para superar a culpa é levar a pessoa de volta ao fato acontecido e perceber o que levou ela a agir daquela maneira, de praticar o que praticou.  A Programação Neurolinguística (PNL), tem um pressuposto que diz: “Toda ação tem uma intenção positiva e as pessoas sempre fazem a melhor escolha”. Se eu voltar ao fato, naquele exato momento, vou perceber que, de fato, eu tinha uma intenção positiva ao fazer aquela escolha que fiz. Tem mais, se eu voltar lá, naquele momento, não sabendo das consequências das minhas escolhas, eu vou tomar a mesma decisão.

Vou dar um exemplo: A mãe de quatro filhos, um belo dia deixa sua filha mais nova no portão da casa de um casal, sem filhos e com condições de criá-la. O casal encontrou a criança de apenas um ano e adotou-a. Deram o melhor que podiam. A criança cresceu e os pais adotivos contaram o que aconteceu a ela. Ela tinha uma vaga lembrança do abandono e não entendia como a mãe fez isto. Já jovem foi reencontrar sua mãe biológica, graças a algumas terapias, onde fez a compreensão, que sua mãe, naquele momento fez um gesto grandioso de amor. Com toda a dor de se afastar da filha, mas sem nenhuma condição de criá-la, buscou o melhor para ela. Ela compreendeu o grande amor por trás da doação e aí, nem precisava perdoar a mãe, mas acolher e sentir-se muito amada. Bem como a mãe, fazendo a mesma compreensão, entendeu que naquele momento fez a melhor escolha e se tivesse de voltar àquela situação, faria igual.

Fazer a compreensão é voltar ao fato e ver com um olhar ampliado por mais informações que naquele momento não tinha. Como uma criança rejeitada na gravidez. Pela regressão ao momento da rejeição ela pode, com o olhar de adulta, perceber que naquele momento a mãe não estava rejeitando a criança, mas sua situação de vida, as dificuldades em dar continuidade à gravidez. Apesar disso, ela e sua mãe foram vencedoras, estando aí saudáveis e felizes.

Para sentir-me perdoado eu preciso de fé; para compreender eu preciso da razão. Se não fosse assim, quem não tem fé nunca poderia superar seus fracassos e os erros dos outros. A compreensão me faz acolher a mim mesmo nos meus erros e os outros de um modo libertador e regenerador. O perdão e a compreensão são duas ferramentas poderosas para libertar-me de ressentimentos, mágoas, ofensas, etc.

Colaboração de Josué Ghizoni