Chamada de “rata” e “piranha”, garota estuprada diz ter se sentido um “lixo”
SÃO PAULO – "Eu me sinto um lixo. Não queria que outra pessoa se sentisse assim", disse, em entrevista ao jornal "O Globo", a adolescente de 16 anos vítima de estupro coletivo em uma comunidade de Jacarepaguá, na zona oeste do Rio.
Ela reconstituiu o crime. "Fui a um baile. [Depois] Fui ao encontro ao meu ex na casa dele e dormi. Quando acordei, acordei em outra casa. A luz estava acesa e havia um montão de gente em cima de mim".
Questionada, disse ter sido violentada "em todos os lugares em que você possa imaginar… [com] objetos também". A adolescente disse ter sido violentada por 33 homens.
"Tem outro vídeo, só dos objetos… eu chorei e fiquei batendo neles". Ao resistir, foi xingada de "safada", "piranha" e "rata", disse na entrevista, dada na sexta-feira. A adolescente afirmou ainda que casos assim não são "culpa da mulher". "Não tem como você culpar a vitima pelo roubo", exemplificou.
O CASO – A investigação teve início após um vídeo da jovem, nua e desacordada, ser postado em redes sociais na terça (24). Na gravação, um grupo de homens, em meio a risadas, toca nas partes íntimas da garota e diz que ela foi violentada por "mais de 30".
Em 2009, a lei 12.015 foi alterada e passou a considerar, além da conjunção carnal, atos libidinosos como crime de estupro. A Polícia Civil no Rio ainda não chegou à conclusão de que houve o estupro, mesmo após a vítima e outros três envolvidos no caso prestarem depoimento nesta sexta-feira, na DRCI (Delegacia de Repressão a Crimes de Informática).
"A gente está investigando se houve consentimento dela, se ela estava dopada e se realmente os fatos aconteceram. A polícia não pode ser leviana de comprar a ideia de estupro coletivo quando na verdade a gente não sabe ainda", disse Alessandro Thiers, delegado titular da DRCI.
Foram ouvidos, na sexta (27), um rapaz de 18 anos que, segundo o delegado, seria o dono do celular no qual foi feita a gravação da vítima nua; outro rapaz de 20 anos, apontado como namorado da vítima; e uma jovem que estaria com os três na noite do fato. Outras três pessoas, que seriam peças-chave do ocorrido, foram identificadas e serão chamadas para depor na próxima semana.
O rapaz de 18 anos admitiu ter tido relações sexuais com a menina, mas negou o estupro. Ele afirmou também que estava no local no momento da gravação, que teria sido feita por um traficante da área, conforme explicou o delegado.
Apontado como namorado da vítima, o rapaz de 20 anos disse que estava com outra menina, na mesma casa, na noite em que os fatos ocorreram e também negou que tenha acontecido um estupro.
"A polícia só vai pedir algum tipo de prisão se for comprovada a existência do crime e se houver necessidade", afirmou o delegado.
EXPOSIÇÃO – Embora considere que ainda não é possível provar que houve estupro, o delegado afirma que ocorreu o crime de exposição de cena pornográfica da adolescente, cuja a pena vai de 3 a 6 anos de prisão, previsto no Estatuto da Criança e Adolescente (ECA).
"O fato de a pessoa ter divulgado configura [o artigo] 241 do ECA [publicar ou divulgar cena de sexo explícito ou pornográfica envolvendo crianças ou adolescentes], já está comprovado."
Ele, porém, afirma que não é possível saber quem foi o autor da distribuição do vídeo. O rapaz que seria o dono do celular afirmou em depoimento que não foi ele quem gravou e publicou o vídeo nas redes sociais.
Segundo o delegado, os depoentes classificaram o local como um "abatedouro". "Estivemos na casa. O local é conhecido como abatedouro. Seria um local para onde levariam meninas para ter relações sexuais".