Crimes dos “sem coração”
Milhares de maridos e mulheres, enfurecidos ou inconformados com a separação, matam-se a tiros e facadas.
Esses crimes são conhecidos por “crimes do coração”, que ocorrem quando a paixão ofusca a razão.
Com frequência, esses criminosos tem um retrato psicológico comum: são pessoas que aparentam ter certo grau de equilíbrio emocional, dentro dos padrões considerados normais.
No entanto, em algum momento extremo tudo se desmorona, as fronteiras do inconsciente (instinto, impulsividade) são ultrapassadas e a violência explode. A partir desse rompimento aumenta a escalada da guerra conjugal.
Quando a ideia de posse é doentiamente maior que a do amor, o inconsciente vem à tona e a violência se materializa em atos e adjetivos.
O que é isso, afinal: privação de sentidos, instantes de descontrole?
Não… Nem um crime é fruto apenas de um momento. Quando se externa, via de regra, é de uma violência interior já existente.
Às vezes, o problema fica guardado durante longo tempo e vem à tona numa hora de emoção mais forte e incontrolada.
Uma estranha mistura de possessão, ciúme e paixão mal processada extrapola. Quem mata o ser amado é sempre alguém cuja personalidade inclui componentes de um distúrbio mental: a paranóia.
Muitos assassinos vêm de um nível social médio e aceitável. Isso é preocupante, na medida em que permite uma suposição de que qualquer pessoa está sujeita à prática desses delitos.
Aparentemente parecem pessoas equilibradas aos olhos da sociedade, trabalham ou estudam, são educadas. No entanto, se for analisar com mais critério a história de cada uma dessas pessoas com um visão não tão convencional, pode-se observar que a maioria das reações, e a maneira dessas pessoas se relacionarem, não tem nada de equilibradas.
Ocorre que, atualmente, cada vez mais inúmeras atitudes bizarras se passam por normais e infelizmente são aceitas pela cultura atual de um modo passivo.
Os famosos crimes passionais são reforçados pelas estatísticas que mostram a tese de que esse tipo de criminoso é aparentemente normal e que o machismo continua sendo um dos maiores responsáveis.
Convém destacar que o índice absurdamente alto de alcoolismo e de drogas cruzadas, vem sendo um veículo que permite e facilita a falta de princípios éticos e a perda de total lei interna.
Apesar do desvio patológico, essas pessoas, quando assim diagnosticadas como doentes, não podem ser consideradas isentas de responsabilidade. Precisam ser punidas e tratadas de forma diferenciada, submetidas a tratamentos psiquiátrico e psicológico.
A violência, muitas vezes no relacionamento humano, se inicia nas pequenas concessões que os parceiros desde a época do namoro vão se permitindo e banalizando; especialmente quanto ao aprisionamento e cerceamento do jeito de ser do outro.
Os traços de agressividade que são normais numa determinada medida em todo ser humano, aos poucos deixam de ser razoáveis.
Aceitar que a violência possa ser naturalizada é uma tentativa de diluir o terror que ela provoca. Não adianta, fazendo vista grossa ou não, os efeitos, se não denunciados e/ou combatidos, serão sentidos.
O importante é lembrar que, em regra, não existe violência reiterada de mão única.
Colaboração de Márcia Spada