Procurador do MPF diz que país vive uma inundação de corrupção

CURITIBA – O procurador do Ministério Público Federal (MPF) e coordenador da força-tarefa da Operação Lava Jato, Deltan Dallagnol, disse ontem, em Curitiba, que é preciso refletir e repensar a República.
“Vivemos uma inundação de corrupção. Estamos tirando essa água com baldes e precisamos que sejam construídas barragens, muros que nos protejam dessa inundação de corrupção”, afirmou.
O procurador disse que houve um aumento de iniciativas contra o Ministério Público durante as investigações, mas garantiu que a Operação continuará resistindo “a todo tipo de ataque” e ressaltou que a sociedade fortalece os trabalhos de combate à corrupção.
“Nós acreditamos que enquanto a sociedade estiver do nosso lado, esses ataques não terão sucesso. Agora, se o apoio da sociedade diminuir, o flanco estará aberto para que o ataque à corrupção diminua”, disse Dallagnol.
Ontem, o MPF apresentou mais duas denúncias contra o ex-senador Gim Argello (PTB-DF), os empresários Marcelo Odebrecht, presidente da empreiteira Odebrecht, Ricardo Pessoa, dono da UTC, Léo Pinheiro, presidente da OAS e mais 16 pessoas, entre as quais o publicitário Marcos Valério, condenado no mensalão, e o empresário Ronan Maria Pinto, dono do jornal Diário do Grande ABC.
De acordo com MPF, nas duas denúncias oferecidas ontem, os acusados cometeram crimes de lavagem de dinheiro, corrupção ativa e passiva, organização criminosa e obstrução à investigação.
Os procuradores pedem o confisco de R$ 7,5 milhões e 200 mil euros e multa de R$ 70 milhões, correspondente ao dobro dos valores totais de propinas. Segundo o procurador Deltan Dallagnol, coordenador da força-tarefa da Lava Jato, o valor envolvido na corrupção das duas acusações de hoje é de R$ 30 milhões.
PETROBRÁS – A denúncia contra Gim Argello, Marcelo Odebrecht, Ricardo Pessoa e Léo Pinheiro aponta que o ex-senador, em parceria com dirigentes das empreiteiras envolvidas no esquema corrupção na Petrobras, acertaram vantagens indevidas.
Entre os meses de abril e dezembro de 2014, houve pagamento de propina para obstruir os trabalhos das comissões parlamentares de inquérito instauradas (CPIs) no Senado e na Câmara dos Deputados.
As CPIs foram abertas para apurar atos ilícitos cometidos contra a petroleira e, conforme se constatou, houve o acerto de pagamento de propina para evitar a convocação de empreiteiros para prestarem depoimento.
Argello era membro da CPI do Senado e vice-presidente da Comissão Parlamentar Mista de Inquérito, formada por deputados e senadores. A ideia era cobrar R$ 5 milhões de cada uma das empreiteiras envolvidas.
As investigações apontaram o acerto com quatro empreiteiras: UTC, OAS, Toyo Setal e Odebrecht. Argello pediu propina também às empresas Andrade Gutierrez, Engevix e Camargo Côrrea, que não aceitaram o pedido.
A denúncia envolve Gim Argello e seu filho Jorge Afonso Argello Junior; Paulo Cesar Roxo Ramos, Valério Neves Campos e José Adelmário Pinheiro Filho (Léo Pinheiro); Roberto Zardi Ferreira, Dilson Cerqueira de Paiva Filho e Ricardo Ribeiro Pessoa; Walmir Pinheiro Santana, Marcelo Bahia Odebrecht e Claudio Melo Filho.