…mas eu me mordo de ciúmes…
Se você está lendo esse texto, tenho certeza que já viveu uma experiência relacionada com o ciúme. Situações de ciúmes nós vemos por todo lado. Esse sentimento não escolhe local, idade, raça, religião, condição econômica, sexo, dentre outros fatores. Todo e qualquer ser humano está sujeito a senti-lo.
Acreditava-se que o ciúme só atacava os fracos, inseguros e neuróticos. Por isso, o ciúme devia ser evitado para a pessoa se “mostrar” forte, seguro e sadio. Ledo engano. Quanto mais íntimo ou pessoal for um relacionamento, maior poderá ser o caos causado pela interferência de um fator externo (seja uma pessoa ou objeto). Logo, toda relação pode provocar ciúmes. E não tem pra onde correr! Pedir pra alguém não sentir ciúmes é o mesmo que pedir para o sol não brilhar durante o dia, ou para a chuva não molhar.
O ciúme faz com que a pessoa se julgue dona do objeto ou da pessoa, tirando dela a liberdade de escolha e individualidade, querendo que essa mesma pessoa aja conforme seu bem querer. Fazer de uma pessoa propriedade sua é uma tremenda ousadia, para não dizer doentio. Em alguns casos, pode provocar “certezas” (por vezes irreais) da pessoa estar sendo vítima de infidelidade ou traição, causando em si mesma uma grande irritação que chega às margens da raiva, do temor e do medo, fazendo com que esse indivíduo se torne intolerante e extremista. A pessoa com ciúme pode também partir para as fantasias de vingança, recorrendo a mentiras e dissimulações, tentando ser generoso, prestativo, mas na verdade, está dando abertura para a hostilidade e atitudes destrutivas, expressando escancaradamente sua raiva com ataques à fonte de seu ciúme, seja sendo um objeto ou pessoa.
Fica evidente, então, que o ciúme é um sentimento egoísta, voltado para o “eu”! É meu! É minha! Não existe noção de divisão ou direito do outro, mas a obrigação dos outros para comigo, tal qual uma criança mimada e birrenta que se sente no direito de pedir o que quer, quando quer e a hora que quer, e fazer o que quer! Diante disso, é claro que nenhum relacionamento será durável e saudável, uma vez que a confiança cai por terra. Entregar-se ao ciúme é deixar que o comportamento possessivo controle seu estado emocional afetivo, perturbando seus pensamentos e direcionando seu comportamento. Como mencionei em outro texto (O Poder da Justiça), muitas vezes nossas emoções controlam e definem nosso comportamento.
Outros fatores que contribuem para o desenvolvimento do ciúme: insegurança da própria competência e da preferência dos outros (muito comum em situações de trabalho onde existem cargos e hierarquias); baixa autoestima; favoritismo dos pais ou rejeição sentida da pessoa amada; ser o bode expiatório das disputas do pai e da mãe; dependência; medo do abandono e não ser mais amado. O ciúme pode ainda trazer uma série de consequências tais como a obsessão de pensamento, crimes passionais, incapacidade de competir, incapacidade de ter e manter relações profundas e amistosas com outras pessoas, etc.
Sendo assim, creio que a melhor forma de lidar com o ciúme não é reprimindo ou fingindo que não o sente, e muito menos deixar esse sentimento extravasar de forma irresponsável e inconsequente. É sim, deixar fluir, mas sem dar vida a qualquer tipo de agressão, seja física ou verbal, e sem se deixar cegar por ele. Vale muito aquele ensinamento que nossos avós sempre nos diziam de contar até dez antes de tomar qualquer atitude. Já vi conhecidos, amigos e até alguns pacientes meus que em um dado momento (mesmo que curtíssimo) de insensatez e sem pensar nas consequências, fizeram atitudes e ações que arruinaram suas vidas na área conjugal, financeira, familiar, dentre outros áreas, a ponto de em alguns casos, ser de forma definitiva e sem chance de reparo.
Vale lembrar que lealdade e fidelidade são espontâneas, por isso não podem ser forçadas. Cultivar o diálogo sincero, franco (sem ser grosseiro) e amigável pode ser o primeiro passe para lidar com o ciúme. Ninguém é obrigado a amar alguém à força! Não existe coação no amor. Ame, mas ame a ponto de permitir o (a) parceiro (a) partir, se assim este julgar ser melhor pra ele e pra você. Amar é respeitar. É ser honesto com seu sentimento, incluindo o seu ciúme. Cada um é livre para amar quem quiser. Se não for você, paciência. O ciúme é um sentimento normal, como qualquer outro. Senti-lo não faz mal, porém o mal é feito pelo agir, e agir sem pensar.
Colaboração de Marcelo Fernando Rojas Rios