As casas dos três porquinhos e a construção de nossos laços afetivos

O conto infantil dos três porquinhos é uma boa analogia para que analisemos com quais “materiais” queremos construir a nossa rede afetiva familiar.
Lembram-se da casa de palha, de madeira e de tijolos. Bem, a mesma lógica se projeta para a construção complexa de nossa rede afetiva.
Assim como uma casa de palha, que na primeira ventania se transforma em fragmentos, há relações que não suportam frustrações e só funcionam quando os envolvidos estão “bem”. 
São relações de palha, com propensão a não durarem muito por não conseguirem superar dificuldades.
Também como na encantadora história dos três porquinhos, há uma segunda casa, um pouco mais sustentável, que resiste a brigas, mentiras, desentendimentos e tantas outras mágoas… É a casa feita de madeira.
Mas foi construída muito rápida, negligentemente, sem priorizar sua base fundamental que, no plano afetivo, seriam seus moradores. 
Após desentendimentos interpessoais, um problema inesperado, ou uma sucessão de pequenos contratempos ela também se transforma em fragmentos de vínculos afetivos.
A última casa é uma rocha, porque ela tem um segredo; a cada ventania, ela se empenha em enxergar e enfrentar:
Os furos frágeis e imaturos dos laços familiares, as rachaduras de mágoas, os pregos de raiva, os tijolos de aparência, os ressentimentos engavetados, a falta de respeito consentido, a ausência de autoridade e tantos outros estragos que a fizeram estremecer.
E assim, os vínculos afetivos vão se reconstruindo, se fortalecendo e a casa sobrevivendo às eventuais ventanias, mantendo-se erguida.
E mesmo que, a casa “caia”, que a família fique durante um tempo num deserto afetivo, num silêncio pesado, em um total desentendimento, ela terá força e perseverança, para reconstruir e renovar seus vínculos afetivos.
Nessa casa, os laços foram tecidos sob uma base sólida, com muita luta, transparência, amor, dedicação e fé. 
São laços que unem e não como um nó apertado, que sufoca. Laços que sabem envolver seus familiares com proteção, autoridade, educação e amor.
Sabendo que, laços afetivos são construídos entre os membros de uma família, e não integram seu patrimônio genético. 
Não nascemos amando, respeitando, nem tampouco sabendo conviver educadamente. Aprendemos e construímos vínculos amorosos com base na educação recebida através de atitudes e exemplos dos pais. 
Posto que, amar não é verbo intransitivo, não é abstrato, reflete uma constelação de atitudes educativas e amorosas que revelam as prioridades que os pais escolheram para erguerem suas casas.
E como somos eternos aprendizes nessa jornada, uma frágil casa de palha, fruto de nossa imaturidade, pode vir a se transformar pelas mãos de quem não se envergonha em recomeçar, em uma verdadeira casa de tijolos, onde a prioridade será a construção e manutenção dos vínculos afetivos.

Colaboração de Márcia Spada