Os piratas, a economia e a segurança nacional
*Dirceu Cardoso Gonçalves
Mais do que a divulgação das conversas do ministro Sérgio Moro, procurador Deltan Dallagnol, outras autoridades e jornalistas, os vazamentos promovidos a partir de hackers constituem uma afronta à intimidade dos brasileiros e ameaça concreta a todos os usuários (privados governamentais e corporativos) da estrutura de comunicação. Embora o material levado a público traga em seu bojo a tentativa de enfraquecimento da Operação Lava Jato e a desqualificação dos fundamentos que levaram à condenação do ex-presidente Lula, ninguém é capaz de dimensionar com segurança outros possíveis objetivos da empreitada. É preciso saber a identidade das vítimas já consumadas e a possibilidade de, além do mundo político-judicial-administrativo, setores sensíveis da economia nacional também serem bisbilhotados e atacados. É inimaginável o risco ao segredo industrial e negocial e à produção nacional se empresas estiverem sendo hackeadas e seus dados forem divulgados ou, pior ainda, vendidos a concorrentes. Daí a necessidade de se investigar com rapidez, chegar aos transgressores e processá-los na justa medida dos crimes cometidos.
Já existem pelo menos quatro inquéritos na área da Polícia Federal, abertos para apurar a violação das comunicações e outros possíveis crimes. Salvo melhor juízo, os responsáveis pelo site que vem divulgando as informações confessamente hackeadas têm de ser chamados a depor e, até por razões de segurança nacional, revelar a fonte dos vazamentos. Alguém que invade a área privada de autoridades deve responder por algo mais do que a simples violação, pois acaba estabelecendo conexão com assuntos de Estado que, tornados públicos, podem comprometer a segurança de pessoas, instituições e da comunidade. Urge compreender qual a extensão e os objetivos dos violadores, que podem pretender muito mais do que a simples e aparente defesa de um político proscrito.
Apesar da crise, o Brasil está entre as dez maiores economias do mundo. Temos um vasto território que desperta a cobiça de aventureiros, corporações e até de nações interessados em tirar proveito de nossos recursos naturais e de outras possibilidades locais. No momento em que o governo recém-eleito estabelece uma nova relação com ONGs (Organizações Não Governamentais), deixa de sustentar os ditos movimentos sociais e contraria os interesses dos remanescentes bolivarianos da vizinhança, é preciso vigiar. Além das providências estruturantes em discussão entre o governo, o parlamento e a sociedade, é fundamental evitar que piratas modernos atuem e tragam mais problemas à vida nacional.
*Tenente Dirceu Cardoso Gonçalves é dirigente da ASPOMIL (Associação de Assist. Social dos Policiais Militares de São Paulo)
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