Cadernos apreendidos deram detalhes sobre o “modus operandi” do PCC

CURITIBA – Cadernos apreendidos com um casal de "contadores" do PCC (Primeiro Comando da Capital) no Paraná, em agosto do ano passado, acabaram resultando na maior operação já realizada contra a facção criminosa no país.
Deflagrada ontem, a operação estava cumprindo 757 mandados de prisão contra integrantes do PCC, facção criada em São Paulo que se espalhou pelo país.
Mais da metade dos 757 investigados já estão detidos em penitenciárias do Paraná. Para a polícia, no entanto, os novos mandados são importantes para desestimular o ingresso na organização criminosa.
Foram presos 93 suspeitos. Outros 484 já estavam nas penitenciárias e receberam nova ordem de prisão.
A polícia também cumpriu quatro mandados de busca, um deles em um hotel no centro de Curitiba que a investigação apontou como pertencente à facção. O estabelecimento era usado para lavagem de dinheiro e para hospedar chefes de outros Estados. Contas bancárias também foram bloqueadas.
"Nós queremos desestimular, desmistificar a quadrilha", disse o secretário de Segurança do Paraná, Wagner Mesquita. "É um combate à cultura de facção", completou Luiz Alberto Cartaxo Moura, diretor do Depen (Departamento Penitenciário do Paraná).
BATISMO – A investigação começou a partir da prisão de duas pessoas que trabalhavam como "contadores" do PCC no Paraná, em agosto de 2014. Debaixo do colchão do casal foram encontradas dezenas de cadernos e anotações o que deu nome à operação, chamada de Alexandria em referência à grande biblioteca da Antiguidade, destruída por um incêndio.
Os papéis contêm os "batismos" feitos pela facção no Paraná, os padrinhos de cada afiliado e números de telefone. A polícia não explicou como era o ato de filiação ao PCC.
Os cadernos também registram o pagamento das mensalidades, de cerca de R$ 400, apelidadas de "cebola". "Batizou, tem que pagar a cebola. É igual padre, é para sempre", diz Moura.
Com as informações, as polícias Militar e Civil traçaram um organograma da facção, pediram o grampeamento de cerca de 200 telefones e interceptaram 30 mil ligações. Nas conversas, identificaram chefes de outros 11 Estados, que realizavam crimes como tráfico de drogas, roubos, tráfico de armas e homicídios.
"RESUMOS" – Os cadernos apreendidos dão detalhes sobre o modus operandi do PCC.
A principal atividade – e a mais lucrativa – da facção é o tráfico de drogas. Com o dinheiro, os chefes pagam advogados, dão suporte financeiro a algumas famílias e garantem proteção a quem está dentro ou fora da prisão.
No Paraná, a maioria dos membros está presa. É o oposto do cenário em São Paulo, onde a maior parte está solta, ou "na sintonia", segundo o jargão da facção.
Os chefes são chamados de "resumos". Existem resumos locais, regionais, federais e disciplinadores (esses, os responsáveis pela execução de inimigos ou infiéis, de acordo com as investigações).
Quem faz a comunicação entre quem está preso e quem está "na sintonia" são advogados e familiares. Na operação desta quinta, dois advogados – um de Paranavaí – também foram detidos, suspeitos de desvirtuarem suas funções e atuarem, na prática, em favor do grupo, transmitindo recados a líderes e auxiliando na administração.
A Secretaria de Segurança do Paraná admite que vem falhando em impedir a comunicação dos membros nos presídios. O órgão, porém, afirma que está fazendo sua parte com a operação e que, no ano que vem, pretende instalar bloqueadores de sinal de celular nas penitenciárias para dificultar a atividade do PCC.
Os nomes dos presos não foram divulgados.