Estresse do Fim de Ano
O fim do ano é um período que pode gerar maior estresse?
Para muitas pessoas sim. Há quem se apegue mais ao “fim”, e o acentue, do que à ideia de recomeço, que é o momento do ano-novo.
Para quem o acento recai sobre a ideia de fim, o sofrimento surge de o fim do ano também nos remeter à ideia de finitude, de que a nossa própria existência é limitada.
Isso traz uma questão existencial profunda, porque este período faz com que alguns se confrontem ou reatualizem essa questão.
Há com frequência um conflito entre o desejado e o realizado.
Ao final de um ano avaliamos o passado – o que queríamos ter realizado e, o que ficou por fazer.
Então o fim do ano reúne o que restou para ser feito e o que ainda não foi feito. Para alguns fica um pouco dessa angústia.
O estresse de fim de ano está muito ligado a essa ansiedade. Isso é: encarar o que não se fez e que deveria ter feito; o que se concluiu e o que não pode ser realizado.
O reencontro familiar também cria ansiedade?
Sim. Se a pessoa tem alguma questão pendente relativa aos seus laços familiares – e mesmo sociais -, o fim de ano é um momento em que isso aparece forte, porque ela vai ter que se deparar com essas dificuldades.
De que forma o estresse pode se manifestar?
Podemos nos tornar mais ansiosos, com menos tolerância, cansados por várias razões, pois é mais um ano com suas alegrias, dores, frustrações, conquistas, enfim, com seus ganhos e perdas.
A ansiedade aumenta também, devido a um clima de muita agitação, correria, compras, trânsito mais intenso.
Aumentam as pessoas nas ruas, no shopping, na fila de estacionamento; os preços aumentam; muita prioridade desnecessária com o volume intenso de compras e mais compras.
E há ainda os que se melancolizam no fim do ano. É essa tristeza que vai abatendo o sujeito, que vai deixando-o ressentido e que muitas vezes ele nem sabe bem o que é. Há um sentimento de perda, mas nem mesmo se sabe o que perdeu.
Essa ansiedade deve ser encarada como algo normal?
Depende de como cada pessoa a maneja. Se essa situação acomete o sujeito e produz uma paralisação subjetiva, ou seja, ele não quer mais sair de casa, por exemplo, isso é mais preocupante.
Crianças e adolescentes se estressam nesta época?
A criança sofre as mesmas ressonâncias que nós: no fim de ano ela é bastante requisitada.
Apresentações na escola, onde ela tem que vestir fantasia, tem que decorar a música, fazer a fala, se apresentar em um teatro para um monte de pais e mães – e nem todas gostam disso.
Já o adolescente vive o estresse nos estudos, do vestibular e agora do Enem. São outras preocupações, mas que levam a todos para uma mesma questão: julgamento, avaliação e a ideia de fim.
De que maneira o estresse afeta a saúde?
O estresse é como ansiedade que se acumula e em um momento precisa escoar. E isso pode se dar através do corpo. Então, esse corpo vai sofrer pelo estresse, e essa tensão pode aparecer como somatização. O intestino altera, o apetite também sofre, podem ocorrer problemas de pressão e distúrbios de alergias.
Como lidar com essa situação?
Viver um dia de cada vez tem sido extremamente difícil. Para fazê-lo, é preciso reconhecer o seu impossível, deixar de pensar no que não é mais possível realizar e, não tentar antecipar o futuro. Isso é certamente muito complicado. Então, lidar com o estresse é isso: entendê-lo que é algo pontual e que deve ser administrado a cada dia.
Colaboração de Márcia Spada
Psicologia
Registro 05/2973 CRP RJ