Subprocurador-geral diz que tiro em político deve ser com grosso calibre

BRASÍLIA (FOLHAPRESS) – Considerado o adversário com tom mais oposicionista na disputa pelo comando do Ministério Público, o subprocurador-geral da República Carlos Frederico criticou indiretamente nesta segunda-feira (27) o que chamou de ações midiáticas patrocinadas pelo procurador-geral da República Rodrigo Janot.
Ele defendeu que é preciso atirar com "bala de grosso calibre" em políticos investigados para evitar o desgaste das relações entre o Ministério Público e o Congresso Nacional.
"[Tem que se evitar] o desgaste entre os Poderes da República. Isso não quer deixar de fazer seu trabalho, mas não de forma midiática. Isso prejudica as relações institucionais. Denuncie, agilize, densifique o calibre da bala, quando atirar, atire para derrubar. Isso minimiza a tensão das relações institucionais, abrindo as portas e só atirar quando tiver bala de grosso calibre", afirmou.
Ao longo da campanha, Carlos Frederico tem aproveitado para criticar Janot, afirmando que o procurador-geral se precipitou ao enviar ao STF pedido para investigar os políticos suspeitos de envolvimento com os desvios da Petrobras, sendo que algumas apurações poderiam ser aprofundadas internamente.
Principal investigação criminal em andamento no país, a Operação Lava Jato tem contaminado o início da disputa pelo comando do Ministério Público Federal.
O escândalo de corrupção envolvendo a Petrobras tem feito parte das plataformas dos candidatos e municiado até provocações nos bastidores para tentar desqualificar rivais.
Carlos Frederico Santos chegou a enviar uma mensagem interna aos colegas para rebater boatos de que teria ligações com o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), um dos 35 políticos investigados na Lava Jato. A relação foi levantada porque ele ocupou a Secretaria-geral do Ministério Público Federal na gestão do ex-procurador-geral Antonio Fernando de Souza, advogado de Cunha.
Carlos Frederico reconheceu a amizade com Antonio Fernando, mas negou conhecer Cunha e manter qualquer contato com o peemedebista.
Janot afirmou que está disposto a disputar apenas mais um mandato de dois anos e que precisa continuar o que começou.
Janot não respondeu ao colega, que tem feito duros ataques a sua gestão, aproveitando o desgaste do procurador-geral por causa da apuração de políticos, especialmente, nas questões salariais.
"O procurador-geral da República tem que ter acesso ao Congresso Nacional. O procurador-geral tem que se relacionar diretamente com parlamentares. Não pode ter intermediários nas relações institucionais entre Ministério Público e Congresso. É importante ter essa relação com ministros de Estado, principalmente do Planejamento", disse Frederico.
O debate girou em torno questões corporativas, internas, principalmente de valorização salarial e benefícios.
O procurador-geral foi questionado sobre o reajuste dos servidores do Ministério Público, que está em discussão no Congresso, e apontou que tem lutado para equiparar os benefícios da categoria ao Judiciário, garantindo melhores salários e benefícios.
"Pau que dá em Chico dá em Francisco. Temos que ter a mesma estatura da magistratura, seja para o bem seja para o mau. Não pode ter o distanciamento", disse.
Janot afirmou ainda que não enfrenta resistências no Congresso para tratar do tema e que espera ter êxito.
"Não tenho resistências no Congresso. Sempre soube manter as portas abertas de onde passei. Lutarei para aprovação da VTM (Valorização do Tempo de Magistratura). Tratarei de recompor essa desigualdade. Essa experiência eu tenho", afirmou.
O mandato do procurador-geral termina no dia 17 de setembro. No dia 5 de agosto, a categoria vota para eleger uma lista tríplice que será enviada para a presidente Dilma Rousseff definir o nome, que terá que ser aprovado no Senado para ser confirmado.