Chance de Dilma
A situação política em Brasília está como o diabo gosta. Tanto que, mesmo com uma frase costumeira, pode-se aguardar que se mude alguma coisa ao menos para que tudo continue como está. Renan Calheiros e Eduardo Cunha querem ver Dilma Rousseff pelas costas.
Ela, por sua vez, quer ver o PMDB e boa parte do PT na mesma situação. Viu-se obrigada a engolir Michel Temer, mas deve perceber que ele poderá devorá-la. Temer, líder do PMDB, presidente nacional do partido, tem fôlego e mais se parece com um dos antigos líderes do PSD mineiro.
Aceitou a incumbência de ser moderador do Governo e seu próprio partido mais o PT e agora parece ter nas rédeas todo o imbróglio político da República.
Temos pela frente um pequeno recesso político. Agosto já está aí. Até lá, os líderes não terão folgas. Brasília, Rio, São Paulo e Belo Horizonte vão pegar fogo nos próximos dias. Quem tirar férias perde o lugar.
Daí a oportunidade da presidente Dilma Rousseff roubar a cena, conversar, conversar, prometer e afastar Renan e Cunha de suas lideranças como se apresentam hoje os presidentes do Senado e da Câmara Federal. Vamos lembrar sempre, que Dilma é executivo. Ainda que enfraquecida, com as finanças abaladas, ela tem a chave do cofre e com esta pode melhorar o que restar de apoio que hoje é dado a Renan e Cunha.
Dilma pode não saber como usar o seu poder. Os “aloprados” do Planalto, confia Cunha, também não. Mas ele ganha tempo e espera que a situação melhore, que o procurador geral Rodrigo Janot não seja reconduzido, que Michel Temer deixe um espaço para os líderes menores sobreviverem. Sarney já era.
O que não impede tê-lo por perto para qualquer eventualidade. A oposição, por enquanto, fica muda. Deixa que Aécio Neves e Geraldo Alckmin disputem a chance de chegar ao poder em nome dos tucanos em 2018.
Em tempo, ainda pode-se dizer que tudo pode acontecer, inclusive nada. As reuniões serão inúmeras, por enquanto reservadas e infrutíferas. Mesmo que Lula esteja alvoroçado e esperando seja lançado pelo PT, para concorrer novamente à presidência. Eis, pois, a oportunidade de se livrar de Lula e de Dilma, de Renan e de Cunha.
Afinal, não é possível que não se faça naturalmente uma renovação de nomes na política brasileira. Que vão para casa os que estão por aí, e que haja um sopro para revigorar os entendimentos entre governo e exposição, entre líderes dos mesmos partidos, todos disputando posições e querendo galgar postos de comando. Essa querência até que é normal. Ela, porém, precisa ser verdadeira, com programa capaz de tirar o país deste atoleiro político e econômico.