O padrão Fifa

Ayrton Baptista*

Com petistas ilustres apanhados pela justiça, o Mensalão completa 10 anos neste início de junho. Uns comemoraram o esfacelamento do “esquema”, outros nem tanto, lamentam sua existência e, principalmente as consequências danosas para o PT.
Tudo começou em termos de escândalo nacional, com passeios internacionais, quando funcionário dos correios recebia três mil reais numa festiva reunião, ainda que sem bolos e bebidas. Eufórico, quem lembra é o ex-deputado Roberto Jefferson, então líder do PTB e que acabou mesmo sendo delator, e cassado na Câmara.
Hoje, cumprindo pena em regime domiciliar, Jefferson teve uma passagem tumultuosa nos últimos anos: vítima de penosa doença, recuperou-se ao que tudo indica, casou com a enfermeira e reside em um condomínio fechado na Barra da Tijuca, no Rio de Janeiro.
Visceral inimigo do Partido dos Trabalhadores, Jefferson “paga para falar”. E quando fala, como ocorreu no último final de semana, é para malhar o PT e o que denomina de “padrão Fifa” imposto pelo partido com uma corrupção generalizada.
O Mensalão foi a partida – levou José Dirceu, o homem forte, o único capaz de fazer frente a Lula, talvez por isso sendo apagado independente de sua participação no Mensalão ou não e mesmo no “Petrolão” ou também não.
Dirceu deu lugar a outros então líderes do PT – José Genuíno, Antonio Palocci, João Paulo, até Lula passar para Dilma Rousseff o posto de honra na disputa da presidência da República, onde se encontra até hoje sem que se saiba se realmente chegará lá.
Fato é que se arrependimento matasse, Dilma teria ficado com o primeiro mandato, pois por melhor que se saia até o final desta segunda etapa, está muito difícil achar o caminho certo, não tendo sequer o apoio total do seu criador, o ex-presidente Lula.
Jefferson, por sua vez, espera o próximo ano. Pretende já em 2016, por visões jurídicas respeitáveis, disputar uma nova eleição, a de deputado federal agora por São Paulo. Falante, bem falante, independente da opinião que dele se tenha, é necessário reconhecer sua habilidade política e a capacidade de conquistar votos. Daí a dizer-se, possivelmente sem medo de errar, que Jefferson fará “um caminhão de votos”. Voltando á Câmara Federal, se isso ocorrer, o líder trabalhista, chegará a Brasília carregando um montante de votos que lhe proporcionarão cerrar de cima.
Além de “padrão Fifa” que ele faz questão de caracterizar o PT, Roberto Jefferson, lembra que o Mensalão fez cair a mascara do partido de Lula, hoje incapaz de ditar normas éticas para a política brasileira. Ora, Genuíno doente, Dirceu sumido, Palocci fugido, o PT vai ter dificuldades de enfrentar tanta oposição.
Jefferson vai lutar para liderar o centro dos debates políticos e os ataques ao partido que almejava 20 anos no poder. Por enquanto, fica ele pelos meios de comunicação, cedidos pela benevolência da Justiça, mostrando o aperitivo de novas batalhas as quais pretende dizer presente.
FALA DIRCEU – “De que serve toda covardia que o Lula e a Dilma fizeram na ação penal 470 (do mensalão) e estão repetindo na Lava Jato? Agora estamos todos no mesmo saco, eu, o Lula, a Dilma”. José Dirceu, ex-ministro da Casa Civil, segundo relatos de amigos próximos que falaram ao jornal O Estado de S. Paulo (Publicação da “Gazeta do Povo”)

*Ayrton Baptista, jornalista.