Dor e indignação

Renato Benvindo Frata

“Quem bate esquece, mas quem apanha…”
Anônimo

Se partirmos para uma definição, diremos que dor é sensação penosa e desagradável produzida por terminações nervosas, e também o sentimento íntimo causado por nós próprios ou por outrem, que atinge a alma. A dor indica que alguma coisa não vai bem: o dente, o ouvido, o ombro, o punho, a alma. O primeiro é fisiológico e o segundo é o que atinge o emocional. Ambos doem por igual na extensão e intensidade que vai de um simples incômodo à agonia, dependendo de quem a sente. Classificando-a por tipos, temos a dor da martelada no dedo (aguda), a que não cede (crônica); a queimadura (cutânea); a dos ossos, tendões e nervos (somática), a das cavidades internas (visceral), e ainda a que afeta nervos sensoriais (neuropática).
A mais comum é a dor de cabeça que pode ser isolada ou se irradiar de um ponto a outro, ser latejante e renitente. Existem mais de 200 tipos dela, causadas por cefaleias primárias, diárias e crônicas; secundárias provocadas por sinusite, coágulo, aneurisma, etc., e são nascidas do estresse, calor demasiado, problemas do sono, alguns alimentos, etc. As dores da alma que geram mágoa e ressentimento, compaixão e até desejo de vingança. São as mais doloridas, especialmente a dor de não ter – como a dor do Natal sem presente – que sente a criança esquecida. Essa dói pra caramba!
No adulto, muitas são as dores psicológicas: as que não se conseguem descrever com palavras nem se provar o quanto doem; como a dor de cotovelo. Perder um amor dói tanto no adulto quanto dói na criança a falta do presente.
Outra dor de arrepiar é a da ingratidão, que o dicionário explica como qualidade de quem não reconhece o bem que lhe foi oferecido nem a ajuda que lhe foi concedida. A esse atributo Torres Pastorinho grafou: “O pior dos defeitos é a ingratidão, que despreza e apedreja hoje quem o beneficiou ontem”. Ela sempre produz a dor de humilhação que é cruel, maldosa, sem remissão como bem descreveu Artur da Távola, pois “quem humilha dói no astral, e o humilhado tem vida eterna porque a dor não envelhece”, permanece imutável e infindável pelos dias.
Se sentir dor é condição de quem vive, o segredo estará na forma de como responder a ela: com medicamentos no caso da dor física e com atitude no caso da emocional, porque se ela é inevitável o sofrimento não é.
Exemplos de ingratidão não faltam. A política do Paraná viveu na carne um deles, quando professores que reelegeram Beto com voto de esperança defenderam seu instituto de previdência da mão grande do Governo. Como paga tiveram mais de 200 feridos por balas de borracha, gás e cassetetes no ato mais desproporcional de emprego de força militar no país.
O pior: essa ingratidão – ou seria despreparo de menino mimado que se vê raivoso quando se lhe descobrem peraltices? – deixa uma chaga sanguinolenta que vai da indignação à humilhação, e isso não é bom, pois afeta toda uma classe de profissionais e reflete na sociedade que se vê desprovida do elementar direito à educação dos filhos e sem a garantia da sobriedade necessária ao governante (perdulário que gastou o que não podia), e que usa da força bruta para impor poder de mando.
Não é bom porque essa chaga tende crescer e produzir resultados negativos e o preço a pagar se mostra grande, já que ofensa dessa magnitude tem dificuldade de encontrar perdão. Prejudica-se toda uma população, especialmente quem tem filhos na escola pública estadual numa disputa que a nada leva senão a mostra de força. Ou a mostra da fraqueza de quem deveria ser apto a governar.
Resta que a classe prejudicada – com extensão a todos os servidores do Estado – se fixe na atitude a tomar para que a dor do interno amaine, e possa hoje seguir adiante, como a água que bate na rocha.
De qualquer maneira, se do lado de lá não existe sobriedade nem respeito ou gratidão, que do lado de cá haja paciência e sabedoria de como contornar a crise; como a água que sendo mil vezes mais mole que a rocha consegue perfurá-la pela insistência.
A refletir. Se um dos lados se dispuser.