É preciso falar sobre preconceito

REINALDO SILVA*

Marcelo gosta de meninos. Elaine gosta meninas. Os dois nomes foram escolhidos aleatoriamente para falar sobre histórias reais de pessoas que conhecemos ou não, mas que podem estar aí, agora, ao seu lado.
São histórias marcadas por constrangimentos e humilhações. Muitas vezes, repletas de violência verbal, agressão física, desprezo, preconceito. Só porque essas pessoas não seguem os padrões impostos pela maioria.
Mas o que as torna diferentes de você? Absolutamente nada. Já reparou que têm olhos, boca, nariz, cabelos, dentes? Elas estudam, trabalham, fazem compras no supermercado, vão ao shopping, comem, bebem, contam piadas, dançam.
Ainda assim, são castigadas todos os dias. Vítimas de uma sociedade que exclui o que considera diferente, são perseguidas nas ruas, apontadas como aberrações.
Recentemente soube que uma estudante apanhou da mãe porque disse que gostava de outra menina. Resultado: depois da surra, preferiu reprimir os sentimentos. Agora, garante que gosta de meninos. Ela não foi a primeira e não será a última a sofrer dessa maneira.
E o problema vai mais longe. De acordo com o Grupo Gay da Bahia, 326 pessoas morreram no Brasil em 2014 em razão da homofobia. Isso significa uma morte a cada 27 horas. Sem contar os suicídios motivados pela não aceitação à homossexualidade.
Homofobia é um conceito que adquirimos culturalmente. Ninguém nasce odiando gays e lésbicas. Uma criança não sai por aí quebrando lâmpadas no rosto de alguém que não é heterossexual.
Mas o tempo vai passando e vamos aprendendo que gostar de alguém do mesmo gênero é pecado. Carregamos dentro de nós os xingamentos. Ouvimos e reproduzimos comentários sobre se tratar de desvio de conduta ou de caráter.
O preconceito está enraizado em nossos pensamentos, em nossos hábitos, em nossos discursos. Quando fazemos piadas ou apontamos o dedo, estamos ajudando a perpetuar o ódio e incentivando a violência.
Há quem diga que a insistência em falar do assunto é o que gera preconceito. Na opinião dessas pessoas, não falar sobre homofobia é o caminho mais fácil para acabar com a perseguição aos homossexuais.
Eu digo que estão erradas. Quando nos calamos, compactuamos. Obviamente, abster-se sobre um tema tão controverso é mais fácil do que tentar entender o sofrimento de quem enfrenta, dia a dia, todos os tipos de agressão.
É preciso desconstruir os preconceitos constantemente e combatê-los. Descobrir o que o outro possui de melhor, independentemente do tipo de relação afetiva que tenha. Porque da mesma forma que você, Marcelos e Elaines merecem respeito.
Sendo assim, recorro ao pensamento de uma sábia menininha de oito anos de idade. No último domingo, eu conversava com alguns amigos a respeito da homofobia, e a pequena ouvia tudo enquanto brincava de boneca. Com simplicidade, resumiu nossos argumentos: “O importante é ter amor”.