O PT e a síndrome do controle da mídia

Rubens Bueno*

A liberdade de imprensa é um dos pilares básicos da democracia. Qualquer tentativa de tutela do Estado sobre os meios de comunicação deve, sempre, ser vista com desconfiança. E desconfiados estamos todos nós, pois desde que assumiu o governo federal em 2003, com a eleição de Luiz Inácio Lula da Silva, o PT, vez por outra, se assanha para investir contra a liberdade de imprensa.
Travestidas de regramento ou regulação da mídia, iniciativas patrocinadas pelo partido do poder escondem, na verdade, uma tentativa autoritária de reimplantar no país uma nova espécie de censura.
Temos, e isto está cada vez mais claro, um governo que não controla a qualidade da gestão pública, que permite que o estado seja sugado pela voracidade do aparelho de corrupção partidária. Um governo que, para esconder seus malfeitos, quer regular a imprensa.
A posição da bancada do PPS é clara. Somos contra qualquer tipo de controle da mídia, seja ele por meio de conteúdo jornalístico, econômico ou qualquer outro.
A ideia do PT de controlar jornais, rádios e TVs é uma síndrome cíclica. Em 2003, o ex-presidente Lula tentou, sem sucesso, implantar o Conselho Federal de Jornalismo. Depois, durante o primeiro grande escândalo de seu governo, tentou convencer a sociedade de que o mensalão não existia, que era invenção da mídia.
Na campanha presidencial passada, Lula, como defensor da reeleição de Dilma Rousseff, fez duros ataques à cobertura dos jornalistas no país. Disse, à época, que a imprensa brasileira seria o principal partido de oposição.
Já a presidente Dilma deu sinal verde para que neste segundo mandato sua equipe elabore e envie para o Congresso Nacional uma proposta com o objetivo de cercear o trabalho jornalístico.
Não bastasse isso, tendências do PT mais radicais querem ir além. Pregam o fechamento de rádios, televisões, cancelamento de concessões, enfim, pretendem estatizar a comunicação.
E por que tudo isso? Porque mais uma vez o Partido dos Trabalhadores está no centro de um escândalo de corrupção. Do maior escândalo que se tem notícia no país e que levou nossa maior empresa, a Petrobras, a sofrer um prejuízo de 22 bilhões de reais no ano passado. Isso sem contar os 6,2 bilhões de reais que escoaram para o ralo da corrupção. Número esse oficial e que, provavelmente, deve estar subestimado.
E diante desse quadro o que o PT e o governo fazem? Em vez de combater os casos de corrupção, de punir os filiados que roubam os cofres públicos, atacam quem os divulga, investem contra a imprensa e o jornalismo investigativo e tentam ressuscitar a velha proposta de regulação da mídia.
O governo quer controlar para não ser denunciado, pois é pela imprensa que sai boa parte das denúncias de corrupção. Dizer que adotará regras apenas com viés econômico sobre as empresas jornalísticas é adotar o mesmo discurso da Argentina, da Venezuela e de outros que diminuíram gradativamente o poder dos veículos de comunicação até impor-lhes um cabresto.
Mais uma vez esse ataque contra a liberdade de imprensa não vai vingar. A sociedade, que clama por melhorias nas áreas da saúde, educação, transporte público e segurança, está atenta.
Até porque não existe democracia sem liberdade de imprensa.