Panelaço, governo e plebiscito

Dirceu Cardoso Gonçalves*

Mais um panelaço ecoou nesta terça-feira em todos os quadrantes de um país que parece se encontrar no cerne de uma crise institucional. Exatamente na hora em que começava o programa político do Partido dos Trabalhadores, onde seus dirigentes diriam que quem for condenado será expulso, ocorreu a manifestação com o bater nas panelas, toque de buzinas, assobios e palavras de protesto.
Não adiantou o partido deixar de fora a presidente Dilma Rousseff, colhida de surpresa pelo primeiro panelaço, durante sua fala de 8 de março, e protegida de uma segunda manifestação do gênero ao romper com a tradição do presidente falar à Nação pelo rádio e televisão no Dia do Trabalhador. Ao que parece, não será fácil separar Dilma e PT, como pretendem alguns segmentos do próprio partido.
No entanto, mais do que o comportamento isolado do partido e de seus integrantes diante da impopularidade, é importante o governo procurar  saber concretamente o que o povo quer ao protestar, atender o que for possível e tentar negociar o que for impossível. Não dá mais para o mandatário ficar apenas nas tentativas palacianas de acerto, onde o governo distribui cargos e arrecada apoio fisiológico de parlamentares que, a rigor, não representam mais o povo pois, no indecoroso leva o que puder, cuidam apenas dos próprios interesses e dos de seus cabos eleitorais.
O quadro perverso leva à reflexão de que o sistema presidencialista mais uma vez se mostra inadequado ao país. Temos hoje uma presidente que não governa, pois sofre sucessivos revezes no Congresso, foi obrigada a nomear ministros que não eram de sua linha político-ideológica e hoje neles se ancora.
É preciso fazer algo de muito urgente para restabelecer a governabilidade. Urge adotar o parlamentarismo em alguma de suas formas que garantam a estabilidade do regime. Nada contra termos um presidente (ou até um rei) que possa representar o país como chefe de Estado e tenha poderes para antecipar as eleições do Congresso quando necessário, e um primeiro-ministro que, nomeado pelo Congresso, possa, sem nenhuma crise institucional, ser por ele substituído se o seu governo não estiver dando conta da administração nacional.
É inconcebível, mas hoje temos um governo refém dos presidentes da Câmara dos Deputados e do Senado, mas não temos o parlamentarismo. A sociedade, pelas suas forças, precisa buscar solução ao impasse. Já que o presidencialismo como está enfrenta problemas, que se reconvoque o plebiscito e o povo tenha nova oportunidade de decidir a forma mais adequada de governo…