Índios representam 0,4% dos brasileiros
A partir da Constituição Federal de 1988, que proporcionou a esses indivíduos um ambiente menos hostil, reconhecendo sua língua, cultura e tradições, eles puderam afirmar sua identidade étnica. Por outro lado, a demarcação de terras indígenas, também provocada por direitos previstos na Carta Magna, criou um ambiente econômico e cultural favorável ao aumento da taxa de natalidade.
Hoje há mais indígenas na zona rural (502 mil) que em áreas urbanas (315 mil). “A mudança na autodeclaração é uma hipótese bem plausível. A gente percebe que houve ligeira redução de indígenas na área urbana, enquanto na zona rural houve significativo aumento. Nas zonas rurais, as mulheres ainda têm alta taxa de fecundidade”, diz a pesquisadora do IBGE, Nilza Pereira.
O Nordeste é a região que mais sentiu a presença dos indígenas nas últimas décadas. Lá, havia somente 29% dos municípios com pelo menos um índio autodeclarado em 1991. No Censo de 2010 essa proporção atingiu 78,9%. Eles estão sobretudo na área urbana, provavelmente por terem migrado de estados como Rio de Janeiro e São Paulo, que tiveram perdas significativas de indígenas nos últimos 20 anos.
O Norte, por sua vez, continua liderando em população indígena, presente em 90,2% de seus municípios. A cidade com a maior proporção é Uiramutã, em Roraima, onde 88,1% dos moradores se autodeclararam índios. Na segunda colocação, está Marcação (PB), com índice de 77,5%. São Gabriel da Cachoeira (AM) tem 76,6%, precedida no ranking por Baía da Traição (PB), com 71% de indígenas. Em quinto lugar vem São João das Missões (MG), que tem 67,7% da população formada por indígenas. Não foram considerados pelo IBGE índios que vivem isolados, conforme política adotada pelo governo de não fazer contato com esses grupos. Dados mais detalhados sobre os 817 mil indígenas brasileiros deverão ser divulgados pelo órgão em julho deste ano.
RECONHECIMENTO TARDIO – O ex-presidente da Fundação Nacional do Índio (Funai) e antropólogo da Universidade Federal Fluminense, Mércio Pereira Gomes, lembra que nos últimos dez anos alguns grupos sociais no Norte e Nordeste se reconheceram como indígenas. “Como sociedades negras que depois se declararam quilombolas, havia grupos sociais que nem falavam mais a língua indígena e depois se reconheceram como etnia indígena. Isso ocorreu com os boraris, em Altamira, os anacés, em Fortaleza, e os tabajaras, na Paraíba.”
O coordenador do Programa de Estudos dos Povos Indígenas (Pró-Índio) da Universidade do Estado do Rio de Janeiro, José Ribamar Bessa, chama a atenção para a necessidade de políticas públicas para o indígena que vive em zona urbana. “Nós somos adestrados a não perceber essa população. A gente acha que quem sai da aldeia deixa de ser índio. E não é assim. O alemão que mora no Brasil não vira brasileiro. As cidades são o cemitério das línguas indígenas”, critica.
(Publicação originalmente adaptada do EcoAgência).
PARANÁ – No Paraná existem três grandes povos indígenas: Guarani (que se dividem em Kaiowa, M´byá e Ñandeva) da família e língua Tupi-Guarani; Kaingang (Guayamas) da família e língua Jê; e Xetá (também chamado Hetá, Chetá ou Setá), também da família e língua Tupi-Guarani. Os poucos descendentes indígenas existentes são protegidos pela FUNAI, e vivem em postos como São Jerônimo da Serra, Guarapuava, Palmas, Mangueirinha, Apucarana, Laranjeiras do Sul e outros.
Segundo os professores da UEM, Tadeu Mota e Noeli, pouco se vê, nos estudos realizados com relação à colonização do norte do Paraná, uma abordagem que retrate a dinâmica das populações que viviam nessas terras antes de serem “ocupadas” oficialmente. A ideia que tradicionalmente é passada pela maioria dos trabalhos acadêmicos e estudos em geral é a de que não havia população nesta região até a chegada dos chamados pioneiros. Ou se havia, era em pequeno número e não ocorrendo problemas ou grande resistência de sua parte: ”Construiu-se a ideologia de que esses territórios indígenas estavam vazios, desabitados e prontos para serem ocupados. Tal construção ocorreu dentro dos marcos da expansão capitalista que incorporou essas novas áreas ao seu sistema de produção” (MOTA e NOELI, 1999, p. 21-22). Segundo Noeli e Mota, de acordo com estudos arqueológicos, existem
habitantes nos territórios que envolvem Maringá há cerca de 7.000 anos. Porém, se
analisados territórios vizinhos, pode-se constatar a presença humana a até 11.000 ou
12.000 anos atrás (NOELI e MOTA, 1999, p. 5).
(MOTA, Lúcio Tadeu, NOELLI, Francisco Silva. Exploração e guerra de conquista dos
territórios indígenas nos vales dos rios Tibagi, Ivaí e Piquirí. In: Maringá e o Norte do Paraná (Estudos de história regional). EDUEM – Maringá, 1999.
(SB)