Somos convidados à Mesa da Palavra e à Mesa da Eucaristia… Lc 24,35-48

O evangelho de Lucas foi escrito para comunidades pagãs de origem grega. Para a cultura grega o que é superior é a inteligência-alma, o corpo é a prisão da alma. Pelo pensamento, Filosofia o homem se liberta da carne. Este desprezo da matéria trás, entre outras coisas a dificuldade de aceitar a Encarnação de Jesus e por consequência também a Ressurreição.
Os discípulos pensam que estão vendo um fantasma, mas Jesus disse: “Por que estais preocupados e por que tendes dúvidas no coração?” Isto mostra as dificuldades que os discípulos e as primeiras comunidades tinham em acreditar na ressurreição. Lucas insiste em mostrar que a Ressurreição não é uma fantasia de alguns. Jesus ressuscitado é real e palpável que dá para constatar. Os discípulos são convidados a olhar, tocar, constatar e Jesus lhes mostra as mãos, os pés e come um pedaço de peixe grelhado. O ressuscitado possui identidade corpórea: “Olhem minhas mãos e meus pés: sou Eu mesmo! Toquem em mim e vejam. Um fantasma não tem carne, nem ossos, como vocês estão vendo que eu tenho”.  (v. 39) “Então Jesus abriu os olhos dos discípulos para entenderem as Escrituras” (v. 45)
A primeira leitura deste domingo, (At 3,13-15.17-19) nos mostra Pedro fazendo um anuncio que é o Kerigma da pregação primitiva da Igreja. É uma interpretação das Escrituras, “que falam de Jesus”: “O Deus de Abraão, de Isaac, de Jacó, o Deus de nossos antepassados glorificou o seu servo Jesus”. At 3,13 Recorda logo a passagem de Ex 3,6.15 onde Javé se deu a conhecer a Moisés como o Deus fiel e libertador. Esse Deus “glorificou o seu servo Jesus” (v. 13b). Chamando Jesus de “Servo”, Pedro estabelece um paralelo com Is 52,13, e com isso monta um mosaico interessante sobre a pessoa de Jesus: Ele é a personificação do Deus que salva e liberta, é o Servo, o Santo e Justo (v. 14). O Autor da vida (v. 15 e o Messias (v. 18).
A Ressurreição de Jesus é o ponto central de toda a Bíblia e do Projeto de Deus. A função principal de tudo o que está no Antigo Testamento é preparar a vinda de Cristo. É Ele quem está no centro de tudo o que diz a Bíblia do começo ao fim. É como se Cristo fosse um farol num determinado ponto da história, iluminando o que vem antes e o que vem depois: CRISTO.
Isto é o significado de: “São estas coisas de que falei quando ainda estava com vocês: era preciso que se cumprisse tudo o que está escrito sobre mim na Lei de Moisés, nos Profetas e nos Salmos. (v. 44) Jesus é o grande intérprete da Bíblia, e é a partir Dele que toda Escritura (Lei-Profetas-Salmos) adquire sentido e coesão. Tal é o sentido da expressão “Jesus abriu os olhos dos discípulos”. (v. 45) Ele ressuscitado, é a chave de leitura de toda a Bíblia.
Os apóstolos conheciam o que os profetas tinham falado a respeito do Messias, do seu sofrimento, mas parece até que tinham se esquecido tal a esperança que se ascendeu na presença de Jesus. Por isso a morte de Jesus parecia o fim, a tristeza, o medo, a dor, fechava-lhes os olhos e o entendimento que não viam saída. Só se tranquilizaram depois que Jesus os levou a descobrir o sentido dos acontecimentos à luz da Ressurreição. Jesus como um Sábio Pedagogo vai conduzindo os seus com gestos que vão mudando as coisas. “Faz memória da História da Salvação”, “partilha com eles o Pão”, ensina, mostra os sinais do Crucificado. A seqüência do texto dos discípulos de Emaus nos conduz: “o coração se aquece”, “abrem-se os olhos”, “enchem-se de alegria’, “a esperança retorna”, a coragem e aos poucos compreendem o sentido dos acontecimentos fundamentados pelas Escrituras e se tornam testemunhas. “Vós sereis testemunhas de tudo isso”. (v. 48) O testemunho dos discípulos é muito importante para Lucas, pois é a partir disso que o anúncio do ressuscitado chegará nos Atos dos Apóstolos, aos confins do mundo.
A missa terminou já nos vamos retirar, Senhor que a sua Benção nos venha acompanhar. Voltamos para casa com Deus no coração, a missa terminou começou nossa missão. Para a missa trazemos a nossa vida com toda sua trama de altos e baixos. Por isso a Escuta da Palavra de Deus é como uma Luz que faz ver de modo diferente aquilo que já estamos vivendo. Ele senta-se à mesa conosco. Não se contenta de participar da nossa refeição, Ele mesmo se faz nosso Alimento. À saída da missa não vamos desobrigados, satisfeitos pelo cumprimento da obrigação. Temos de ser testemunhas fora daqui, do que ouvimos e sentimos. Na participação da missa não se ganha presente, confere-se responsabilidade.

Frei Filomeno dos Santos O. Carm.