O vice e a volta por cima

Ayrton Baptista*

Talvez nem os mestres do velho PSD mineiro fariam melhor. Calado, rejeitado em diversos episódios da política nacional, com vários “chega pra lá”, Michel Temer pode até não ter “sangue de barata”, mas aguentou firme e hoje articula o governo, ou em nome dê.
Nas eleições passadas, figuras de projeção no PT gostariam de afastar Michel Temer da chapa presidencial. Nada feito. Presidente do PMDB, aguentou firme, resistiu aos dissabores na luta política e hoje vai a Lula e sai dizendo que ele é ele tem autonomia completa para falar pelo governo. Até que ponto chegou ou teve que chegar a presidente Dilma Rousseff!
De um lado, Dilma vê o presidente da Câmara, Eduardo Cunha, seguir linha diferente aos pregados pela titular da República. Enciumado e desejando novas benesses, o presidente do Senado, Renan Calheiros, entra no time que desafia Dilma. Agora fecha-se o cerco, com o articulador Michel Temer, sem que qualquer liderança do PT reclame.
O PT está “engolindo sapo” em profusão. Lula, líder inconteste, não consegue ultrapassar certas barreiras, ficando apenas reclamando das posturas de Dilma, estava cada vez mais próxima de um rompimento com o seu padrinho. Não deixa de ser uma grande pretensão.
Para a presidente, o episódio Petrobrás já era. Está tudo no seu devido lugar. Segundo ela, a empresa-orgulho dos brasileiros “deu a volta por cima”. Ora, é evidente que todos os brasileiros apreciariam assinar em baixo das declarações petrolíferas de Dilma. Falta, entretanto, acreditar que isso viesse ocorrer em tempo recorde. As ações estão pipocando nos Estados Unidos.
A diferença é apenas de que as ações coletivas contra a roubalheira na Petrobras estão sendo seguidas pelas individuais. Muita água ainda vai rolar e ao invés de aplaudir temos que torcer para que cessem esses movimentos e que a nossa maior empresa encontre maneira de enfrentar o problema, cedendo se necessário ao ímpeto dos acionistas estrangeiros.
A vez na política nacional é do PMDB e seus líderes. Michel Temer deve conseguir alguns pontos para o Governo nas negociações a que se entregar por delegação expressa de Dilma. Mas pode ter de enfrentar em “autonomia” o próprio presidente da Câmara Federal e o exército do “baixo clero” que o segue e que lhe incentiva a percorrer o país com sua Câmara interiorizada no debate com a classe política, a despeito de algumas barreiras que lhe colocam.
E a presidente Dilma não se precipite em colocar um ponto final nos escândalos da Petrobras porque outros estão surgindo e em cuja marcha pode alcançar todo o seu período governamental. Que trate de formular um Ministério do trabalho efetivo se é que deseja realmente mostrar algo ao final de sua gestão.
A Lava Jato parece não ter compromisso com datas, mas com a limpeza dos órgãos infestados por irresponsáveis dirigentes que até então “ninguém sabe”, “ninguém viu”. Só a Policia Federal e o Ministério Público.