Copiloto do A320 teve intenção de “destruir o avião”, diz promotor
Segundo o promotor de Justiça de Marselha, Brice Robin, o copiloto Andreas Lubitz, 28, impediu de forma voluntária o retorno do piloto à cabine e operou intencionalmente para chocar o avião contra os Alpes franceses.
"Enquanto estava sozinho, o copiloto pressionou o botão para colocar o avião em descida. É uma ação em altitude que só pode ocorrer de forma deliberada", disse o promotor, ontem.
O gesto do copiloto, afirmou, mostra uma "tentativa de destruir o avião".
A autoridade francesa afirmou que não há, por enquanto, elementos que expliquem essa atitude.
Os investigadores descartam até agora qualquer motivação terrorista por parte do funcionário da empresa aérea.
As informações foram obtidas por meio das gravações de áudio da caixa-preta encontrada em meio aos destroços na terça.
O voo fazia a rota Barcelona (Espanha)-Dusseldorf (Alemanha) com 144 passageiros e seis tripulantes – todos morreram.
O avião caiu por volta de 11h (7h, horário de Brasília) de terça-feira, após uma repentina descida em quase dez minutos em direção às montanhas, sem qualquer alerta de emergência.
A Lufthansa, que controla a Germanwings, afirmou, por meio do CEO, Carsten Spohr, que Lubitz havia passado nos testes médicos e técnicos, não dando qualquer indício de que poderia cometer um ato como este.
Ele fora contratado em 2013 e tinha, segundo informações da empresa aérea, 630 horas de voo.
O promotor de Marselha confirmou a informação antecipada pelo jornal "The New York Times" de que havia apenas um piloto na cabine na hora da queda – o outro havia deixado o local pouco antes.
"É possível ouvir que ele (o piloto) bate, se identifica, pede para abrir a porta, mas não há resposta", afirmou.
Brice Robin disse também que a cabine ficou em "absoluto silêncio" nos últimos dez minutos antes da queda.
É possível ainda, segundo ele, ouvir a respiração do copiloto até o momento do impacto, o que mostraria que ele estava vivo na hora do choque com a montanha.
Os passageiros provavelmente só perceberam nos momentos finais o que estava acontecendo – gritos podem ser ouvidos momentos antes da colisão, segundo o áudio gravado na caixa-preta.
Robin, no entanto, disse que não vê a queda do A320 como um suicídio. "Quando se é responsável por 150 pessoas, eu não chamo isso de suicídio", disse.
Áudio gravado aponta que passageiros gritaram antes de colisão
Os passageiros do voo 9525, que caiu nos Alpes franceses na terça-feira (24), gritaram logo antes da aeronave colidir contra as montanhas, disse o promotor de Marselha Brice Robin.
Pelo áudio gravado na caixa preta da aeronave, aparentemente, os passageiros não entendiam o que estava acontecendo durante a queda, segundo o promotor.
Os dez minutos que antecederam a colisão foram marcados por silêncio na cabine, enquanto o piloto trancado para fora batia na porta e forçava para abri-la.
É possível ouvir a respiração do copiloto, indicando que ele estava vivo até o momento da colisão da aeronave.
Lubitz, cidadão alemão de 28 anos, havia sido aprovado em todos os testes físicos e técnicos e estava "100% apto para voar, segundo o diretor executivo da Lufthansa, Carsten Spohr.
O que se sabe sobre o que aconteceu no voo, através das gravações
Ato voluntário
*hora local (Espanha, França)
10h01*
Airbus A320 decola do aeroporto de Barcelona rumo a Düsseldorf, na Alemanha, com 150 pessoas a bordo
– Os dois pilotos conversam normalmente pelos primeiros 20 minutos. O piloto deixa a cabine, provavelmente para ir ao banheiro, e pede que o copiloto, identificado como Andreas Lubitz, 28, assuma o controle. Ouve-se o barulho da cadeira virando e da porta sendo trancada
10h30
Após atingir a altitude de 38.000 pés, o avião faz seu último contato com o controle de tráfego aéreo. É um contato de rotina, para pedir permissão de seguir em sua rota
10h31
Um minuto depois, o avião começa a descer. Sozinho na cabine, o copiloto aciona os botões que iniciam a descida do avião. Segundo o promotor, essa é uma ação que só pode ser "deliberada"
– É possível ouvir o piloto retornando e batendo de leve na porta. Sem resposta, ele começa a esmurrar a porta. É possível ouvir um alarme, possivelmente acionado após o piloto tentar inserir a senha para ter acesso ao cockpit
10h40
Os radares fazem último contato com a aeronave, que desce a uma velocidade entre 3.000 e 4.000 pés por minuto. Neste momento, a altitude registrada é de 6.175 pés
– Controladores fazem várias tentativas de contato, mas não obtêm resposta
– Nos últimos momentos do áudio é possível ouvir gritos dos passageiros. Segundo o promotor, possivelmente eles só perceberam o que ocorria na cabine neste momento
– O copiloto permanece o tempo todo em silêncio, mas é possível ouvir sua respiração normal até o momento do impacto
Cerca de 11h – O avião bate na montanha a 700km/h. “A morte foi instantânea”, disse o promotor
Como funciona o dispositivo de segurança da cabine
Desenvolvido após o 11 de Setembro, equipamento permite ao piloto se manter trancado na cabine sem ninguém conseguir entrar
Como a porta da cabine deve ficar sempre trancada, há o risco de o piloto que permaneceu passe mal durante a ausência do colega
Neste caso, o piloto que ficou do lado de fora digita um código de segurança que permite que ela se abra
Quem fica na cabine, porém, consegue bloquear a abertura da porta, mesmo com a digitação do código
Para isso, basta mudar o comando da porta para "lock" (travado). Como a porta da cabine é blindada, é praticamente impossível entrar