O almoço grátis e a dignidade dos governos
Causa nojo e merece profunda reflexão, a incisiva afirmação do ex-diretor da Petrobras, Paulo Roberto Costa, que, com uma naturalidade invoca a citação de que “não há almoço de graça” para justificar que, quando alguém é nomeado ministro, secretário-geral ou técnico do governo, já sabe que deve cometer desvios de conduta e favorecer seu padrinho ou os esquemas dele.
Quer dizer que os indicados, via-de-regra, já assumem com a tarefa de fraudar e desviar a finalidade dos recursos públicos. Impossível não traçar um paralelo com alguns políticos de sociedades melhor estruturadas e mais punitivas que a nossa onde, descobertos em irregularidade, envergonhados, cometeram o suicídio, até mesmo diante de câmeras de televisão.
É mais prudente acreditar que Paulo Roberto tenha feito a afirmação – perante o Ministério Público Federal – como estratégia para justificar os desvios que praticou na petrolífera e que este não seja esse o comportamento genérico entre governantes, partidos políticos e aqueles que influenciam na escolha de ministros, secretários e outros integrantes do governo.
Se isso for uma regra, não há dúvidas de que vivemos numa grande podridão e algo de muito urgente tem de ser feito para salvar o Brasil.
Precisamos acabar com a ideia de que aqui é o pais do “jeitinho”, e passar a cultivar princípios de cidadania, honestidade e compromisso econômico e social, sem os quais jamais seremos uma nação próspera e organizada.
Em vez do propósito de levar vantagem em tudo, temos de incutir nos cidadãos de todos os níveis os princípios de honestidade, eficiência e dignidade. Temos de lutar para que, um dia, o brasileiro pense relativamente como o japonês, e outros povos que lutam pela eficiência e se indignam e envergonham pelo simples fato de supor que alguém tenha dúvidas quanto à sua honestidade.
Na verdade, temos de atingir o outro lado da moeda relativa ao raciocínio emitido pelo ex-diretor da Petrobrás, que acusa genericamente governantes e nomeados.
Dois dos mais malcheirosos acontecimentos da vida nacional – o mensalão e o petrolão – estão umbilicalmente ligados ao custeio de campanhas eleitorais e à formação de base congressual de apoio ao governo.
É necessário definir, com urgência, fontes lícitas para sustentar as campanhas e punir severamente tudo o que se fizer fora dos parâmetros. Da mesma forma, há que se resolver o relacionamento entre Executivo e Legislativo sem a necessidade de leiloar cargos ou distribuir benesses aos parlamentares que já são regiamente pagos para cumprir seu mandato.
Sem essas providências, apesar do tamanho e do desenvolvimento tecnológico, jamais passaremos de uma reles e atrasada republiqueta perante os olhos do mundo. Não podemos, jamais, nos envergonhar de nossa honestidade.