Carga no Janot
De um momento para outro ninguém dos políticos da lista conhece Paulo Roberto Costa ou Alberto Youssef. O ex-diretor da Petrobras e o doleiro já famoso deveriam ter estado em todos os lugares, aparecendo para as maiores e as menores falcatruas.
Em não comparecendo, o pessoal da lista se julga longe de qualquer suspeita no maior escândalo da República. Tudo assim, de repente, não mais que de repente, e a presença dos dois seria imprescindível para que os culpados se julgassem arrebatados pela fúria de ter recebido propina.
O procurador geral Rodrigo Janot está sendo tratado como o único responsável pela confecção da lista. Ela, a lista, foi composta por sua vontade, os nomes figurando em linha alfabética por suas indicações. O Ministério Público, este, ora, só fez o que Janot mandou. Abaixaram a cabeça e pediram a chefe que listasse os possíveis culpados pela falcatrua.
Pois é assim que parlamentares do Senado e da Câmara Federal estão tentando tirar o corpo e junto também a lista em que se diz em inocentes, até porque nunca estiveram com Costa e Yousseff. Na verdade, e isso é óbvio, não precisa a presença física de qualquer um envolvido para que a propina seja estipulada e passada de mão em mão. É só ler os depoimentos para se ter o modo como agiam.
Ademais, como é o natural, se inocentes foram todos os listados ou muitos deles, a verdade vira à tona e as investigações chegarão ao fim, fazendo-se justiça às possíveis falhas processuais. Mas não, os listados não querem é que se inicie o processo. Há, na verdade, um receio enorme de que Janot e seus companheiros tenham feito o trabalho admirável que se vê sem os cuidados necessários para que inocentes não paguem pelos culpados.
O presidente da Câmara Federal, Eduardo Cunha, saiu na frente. Mostrou como em política não se pode dormir. E arrebatou os aplausos generalizados e pronunciamentos explícitos de que é um político acima de qualquer suspeita.
Seu colega de partido e presidente do Senado, Renan Calheiros esperneou tão logo a lista surgiu. Ainda não passou de qualificar o trabalho da Lava Jato de político e safado, visando incriminar homens de bem. Pois que se punam aqueles que inadvertidamente estão jogando com seus nomes tão conhecidos. Mas todos são inocentes. Estamos vendo uma lista de inocentes sendo tratados como bandidos perante a sociedade que os elegeu.
Se é assim, Janot e a lista de condenados à priori que se dê por encerrados os trabalhos pelas Esplanadas brasilienses, dancem o samba do adeus e se prossiga com o assalto à Petrobrás. Fiquemos por aqui, na expectativa de que tudo seja aclarado devidamente. Basta que se deixe que a verdade venha à tona, em toda a sua plenitude.
A CANDIDATURA – O ex-deputado José Eduardo Cardozo foi um bom parlamentar. Não está sendo, porém, um bom ministro da Justiça. Dando ênfase partidária em suas manifestações, mais parece real candidato a ministro do Supremo Tribunal Federal. Seja falando em que período do dia for, Cardozo se esmera na defesa do Governo e, em particular, da presidente Dilma. Ao contrário do falecido ministro Márcio Thomaz Bastos, cuja nomeação serviu tanto aos governos petistas.
Enquanto isso, a prisão de Renato Duque reúne além dele, diretor importante da Petrobrás, outros dois colegas, Nestor Cerveró, e Paulo Roberto Costa, este em prisão domiciliar. A história não acabou. Duque se encarregou de demonstrar a tenacidade com que encara os interesses, ao estabelecer a ponte entre onde estava o dinheiro que ficou em seu poder, juntando-o aos euros no Principado de Mônaco.
Poder-se- á falar em quadrilha desbaratada? Talvez não, pelo menos em termos de direção efetiva de setores da empresa estatal. Mas há no ar uma promessa. A de que juntem-se a esses três outros tantos que usufruíram da dinheirama da Petrobrás. Que, por sinal, pode não ser apenas uma ilha dentro do espectro da malvadeza.
*Ayrton Baptista, jornalista