Estudos determinarão se E27 causará problemas nos carros a gasolina
O incremento de 2% do fluido vegetal no de origem fóssil, segundo o governo, é visto como um incentivo ao setor sucroalcooleiro, que há anos enfrenta crise – ao menos nove usinas devem deixar de operar na safra deste ano, prevê a Unica (União da Indústria de Cana-de-Açúcar).
Segundo especialistas consultados pela reportagem, a mudança não interfere na durabilidade dos motores bicombustíveis, já construídos com materiais resistentes ao álcool. Quanto àqueles movidos apenas a gasolina, há chances de a durabilidade ser reduzida, embora especialistas acreditem que a possibilidade é pequena.
A AEA (Associação Brasileira de Engenharia Automotiva) afirma que "a probabilidade de haver diferença em corrosão nas peças além do que já existe é muito baixa, quase nula, para carros mais antigos. Nos carros mais modernos, é nula a variação".
Francisco Satkunas, engenheiro mecânico e conselheiro da SAE (sociedade que reúne engenheiros do setor automotivo) afirma que os carros movidos somente a gasolina – sobretudo os importados – "terão que ser avaliados quanto à sua durabilidade, que poderá ser reduzida em longo prazo por conta dessa adição de etanol". Contudo, o especialista ressalta que é pouco provável o surgimento de problemas.
A Anfavea (associação dos fabricantes de veículos) conduz um estudo sobre o tema, que deverá ser concluído até o fim do mês. O objetivo é esclarecer tecnicamente as reações da nova composição nos motores flex e nos movidos apenas a gasolina.
"Entendemos a adoção desta medida como apoio à economia brasileira. Com a preservação do teor de álcool na gasolina premium fica mantida, em defesa de nossos consumidores, há alternativa de abastecimento para os veículos movidos a gasolina", declara Luiz Moan, presidente da entidade.
Até que o estudo seja concluído, a Anfavea recomenda que os carros movidos a gasolina sejam abastecidos com gasolina premium, que mantém os 25% de etanol em sua composição, mas facilmente esbarra nos R$ 4 por litro. A comum custa, em média, R$ 3,30 o litro, segundo a ANP (Agência Nacional do Petróleo).
A Abeifa (associação que representa importadores e fabricantes de veículos) diz que o novo teor de etanol na gasolina é "adequado", e que os carros de suas associadas (em sua maioria importados e movidos a gasolina) "foram projetados para os mais diversos mercados, desenvolvidos para receber uma composição de combustível com maior tolerância". Ainda assim, a entidade também recomenda o uso de gasolina premium e lamenta não ter tido mais tempo "para realizar testes de pelo menos 60 mil quilômetros, que trariam uma visão melhor de um possível impacto no desempenho dos veículos e/ou no comportamento dos componentes, utilizando gasolina com teor mais alto de etanol".
CONSUMO
Segundo Nilton Monteiro, diretor executivo da AEA, o desempenho dos motores referente a consumo e performance será fruto da "estratégia das empresas em calibrar os motores favorecendo a performance ou a economia de combustível".
As fabricantes consultadas pela reportagem confirmam que realizam testes para saber se a calibração atual dos motores mudará por conta da porcentagem mais elevada de etanol na gasolina, mas a divulgação dos resultados ficará a cargo da Anfavea.
De acordo com Satkunas, "o consumo deverá ser praticamente o mesmo nos motores flex e mesmo nos demais a gasolina. Dois pontos percentuais acima dos 25% atuais não deverão ter maior impacto nesse quesito".
ANTIGOS
O engenheiro mecânico da SAE Brasil ainda explica que os mais afetados serão os donos de automóveis mais antigos, sobretudo os que usam carburador.
"Eles poderão ter mais falhas na partida a frio e corrosão de componentes. Para esses casos a orientação é usar gasolina premium". Isso porque o gicleur (componente que determina a quantidade de combustível que entra no sistema de combustão para se misturar ao oxigênio) foram originalmente calibrados para 15% de etanol, que era a proporção praticada naqueles anos, e poderão ter que ser regulados para os 27% atuais.
Ainda assim, as chances de ocorrer algum dano ao sistema é considerada pequena.