A purificação do templo… (Jo 2,19-21)
A Páscoa era a celebração da libertação por excelência, a memória do carisma fundador de Israel. Ora, a mediação foi absolutizada e transformada em centro do supremo poder religioso e político. Tornou-se odre velho, caducou.
O culto libertador tornou-se um comércio sacro.
João chama este culto “Páscoa dos Judeus” (v. 13) e não mais Páscoa do Senhor como era conhecida no Antigo Testamento (cf. Ex 12,11.48; Lv 23,5; Nm 9,10.14), indicando que o sentido da festa foi pervertido. O Templo torna-se expressão da opressão.
Jesus, ao dizer: Destruí este templo, e em três dias eu o levantarei (v. 19), utiliza os verbos luein (= demolir) e egeirein (- erigir, levantar), aplicáveis tanto ao edifício quanto à pessoa. Egeirein (= erigir, levantar) é o verbo utilizado também para ressuscitar (Jo 21,14). Da mesma forma substitui o termo ieron (= Templo) dos VV. 14.15 para naos (= Santuário) nos VV. 19.20.21. Isto mostra que Jesus muda claramente o foco. Direciona o olhar do discípulo da instituição (Templo) para a sua pessoa (Corpo).
Isto confirma o comentário do evangelista no v. 21 identificando o Templo com o Corpo de Jesus.
Quando João escreve seu Evangelho, o edifício do Templo não mais existia, mas a mentalidade saudosista na cabeça de muitos discípulos sim. Não conseguiam avançar olhando para o passado.
O Templo, enquanto Instituição e mediação fora destruído pelos romanos e tanto o próprio Judaísmo quanto a Igreja continuavam vivos. Isto ensinava que é preciso relativizar as mediações quando elas não mais correspondem ao seu propósito.
O Cristo Ressuscitado é o sinal ou obra de Deus, O NOVO TEMPLO, NOVO MEDIADOR DA RELAÇÃO DEUS-POVO. Ele é a morada de Deus aberta ao ser humano, fonte de comunhão fraterna. Era preciso mudar o foco. Uma nova perspectiva teológica, um novo olhar.
(Frei Rivaldave Paz Torquato O.Carm.)
Jesus: sacramento de Deus: A presença mais significativa de Deus não é lugar, coisa ou objeto. Eles não são sagrados, mas são santificados pela presença do Senhor. O coração do homem é o santuário de Deus. No entanto o Templo havia sido transformado em armazém de secos e molhados.
Nada há que possa dobrar Deus à vontade do homem. Deus não se vende: inclina-se, debruça-se por misericórdia até o homem.
O Decálogo mostra claramente o tipo de relação dos homens com Deus e entre eles mesmos. Os três primeiros mandamentos visam prevenir para que o homem não sofra uma visão errada e supersticiosa, julgando manipular o Senhor. Com isso Deus devolve ao homem a sua dignidade: vale pelo que é e não pelo que tem. É imagem de Deus. No relacionamento com o próximo – na área familiar, profissional, amizade, vizinhança – tudo é feito sob a inspiração de Deus.
Ao relativizar o valor do recinto do Templo, Jesus não quis menosprezá-lo. Respeita-o, cumpre ali certas obrigações religiosas. O lugar sagrado se faz necessário ao homem a fim de obter condições para um encontro íntimo com Deus. Mas nem por isso coincide com Deus. O valor da prática religiosa não se mede pelo cuidado em observar minuciosamente os ritos ou pela qualidade da oferta que se dá. Consiste antes na entrega sem reservas da pessoa a Deus, de maneira que oferta e ofertante se identifiquem no culto.
O culto é que santifica o Templo, enquanto traduz o compromisso com Deus e com os irmãos.
Frei Filomeno dos Santos O.Carm.