A Mentira e o Mentiroso

Renato Benvindo Frata

A mentira, grande ou pequena, inocente ou maliciosa, prejudicial ou não, em qualquer situação fere a ética que busca fundamentar as ações morais traduzidas em verdade e razão.
É assim desde tempos imemoriais quando o homem adquiriu direito de se expressar definindo o comportamento social. Embora seu conceito, peso e justificativas tenham mudado e se ajustado com o tempo, ela continua sendo má e representa o que se conhece por falha de caráter – que deprecia quem a usa.
O mentiroso, portanto, pelo hábito de não falar a verdade ganha codinomes especiais como: bandoleiro, bandido, cangaceiro, malfeitor, quadrilheiro, salteador, trapaceiro, enganador, falaz, ilusório, embromador, chicaneiro, embusteiro, tapeador, burlão, caborteiro, charlatão, intrujão e outros mais.
Até o cinema retratou a mentira em cores vivas: “O Grande Mentiroso” é filme da década de 2000 que conta a história de um garoto de 14 anos que tinha na mentira a condução de sua vida. Mentindo com desfaçatez justificava-se dos erros, até que para reparar um deles, se obrigou escrever um texto em apenas três horas, sob a condição de não o fazendo ficar para recuperação em curso de férias.
Usando a imaginação ele escreveu a redação, mas ao ir para a escola sua bicicleta bateu no carro de um produtor de cinema que, temendo ser processado pelo atropelamento lhe deu uma carona. Ao sair do carro, o garoto esqueceu a redação e, na escola, ninguém acreditou na história do acidente, sendo obrigado a fazer o curso.
Um dia ao ir ao cinema, viu que o cineasta transformara seu texto num filme locupletando-se da história. Ao reclamar o uso indevido da obra, ninguém lhe crédito e ele então, foi atrás do produtor para que confessasse o surrupio da ideia.
O final é fácil de imaginar: depois de algumas peripécias o usurpador foi desmascarado e o mentiroso provou a autoria do texto, mudou de comportamento deixando de mentir e se deu bem, restaurando a verdade. Comédia de pouca repercussão, mas que retrata a vida comum.
Entre nós há mentirosos em todas as áreas: os contumazes do dia a dia que teimam em tirar vantagem até de um fio de cabelo no prato de sopa, os que se locupletam de fortunas públicas e particulares e os que usam a mentira para benefício próprio em cargos públicos. São os profissionais da enganação encravados na classe política.
Com a habilidade de manipular qualquer assunto, reinventam a história e pintam a mentira com cores de verdade, levando a população creditar-lhes o voto; até que num momento qualquer a verdade aparece, se sobrepõe a mentira e gera indignação e decepção em quem foi enganado, como está a acontecer agora com a desfaçatez dos governantes em face dos aumentos de preço, tarifas e os consequentes protestos e greves.
Os brasileiros e especialmente os paranaenses passam hoje por situação de grave constrangimento e desalento, em razão de mentiras que lhes foram pregadas durante a última campanha eleitoral; e que agora aparecem escancaradas pela mídia, deixando esses mentirosos com cara de quem sujou a cueca, sem saber se confessam que mentiram para se dar bem e se redimem como o menino do filme, ou se inventam outra história mais cabeluda para abafar a primeira e continuem exibir a cara deslavada do tempo da campanha.
Os nomes desses mentirosos em nível federal e estadual, não é preciso citar: jamais iremos esquecê-los já que continuarão flutuando por aí nos próximos embates políticos; mas o povo de memória boa ao se referir a eles pelo mau caráter que demonstram, com certeza acrescentará a seus nomes de batismo um dos codinomes acima citados – que melhor se ajuste à sua notoriedade, pois quem pede chuva não pode reclamar da lama.