Reuniões de empresários com Cardozo são pressão contra o Judiciário, diz associação

BRASÍLIA – Em mais um capítulo da polêmica envolvendo as reuniões de advogados de empreiteiras investigadas na Operação Lava Jato com o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, a AMB (Associação dos Magistrados Brasileiros) declarou, ontem, que a conduta dos advogados induz uma pressão sobre o Poder Judiciário.
Em nota, Costa afirmou: "É fundamental para a democracia que os advogados atuem na amplitude das suas prerrogativas, de forma incondicional. Porém, estas mesmas garantias devem ser exercidas dentro de um conceito radicalmente republicano. Neste caso específico, a conduta dos advogados induz em uma atuação voltada para pressionar o uso do poder político sobre o Judiciário".
Cardozo teve reuniões com advogados da UTC, da Camargo Corrêa e da Odebrecht nos últimos meses, empreiteiras alvo das investigações da Lava Jato. O fato foi criticado pelo ex-ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) e relator no processo do mensalão Joaquim Barbosa, que pediu a demissão do ministro. Formalmente, a Polícia Federal, que conduz as investigações da Lava Jato, é subordinada ao ministro.
Na quarta-feira, o juiz que conduz a Lava Jato, Sergio Moro, classificou de "intolerável" a atuação das empreiteiras.
Agora a AMB saiu em sua defesa. "Há uma cultura de partir para pressionar o juiz e desqualificar o Judiciário quando ele atua contra pessoas que não estão acostumadas a serem alvo de ações", afirmou à reportagem o presidente da AMB, João Ricardo Costa.
Em um ato de respaldo a Moro, a AMB solicitou uma audiência com Cardozo, na qual a associação deve defendê-lo e se colocar a favor do aprofundamento das investigações. Ainda não há data para a reunião.
O presidente da AMB disse ainda que Sergio Moro deve estar preparado para receber pressões na condução da Lava Jato, mas que a entidade lhe dará respaldo. "É evidente que não vamos assistir passivos qualquer postura de pressão contra o juiz", afirmou Costa.

Joaquim Barbosa rebate críticas e diz
que recebia advogados “às centenas”

O ex-ministro do STF (Superior Tribunal Federal) rebateu as críticas a seus comentários sobre o encontro que advogados que defendem investigados na Operação Lava Jato tiveram com o ministro da Justiça, Eduardo Cardozo.
"Incrível como torcem e retorcem o que eu digo! O objetivo é claro: desviar a atenção da essência daquilo que foi objeto do meu comentário. S [sobre] o q [que] eu falei? S [sobre] matéria jornalística em que se relatava uma tentativa de interferência da Política em assunto ‘jurisdicionalizado’. Só", afirmou, em sua conta no Twitter, nesta quinta-feira (19).
Na terça-feira (17), Barbosa disse que quando um advogado recorre a políticos para resolver problemas judiciais, seu objetivo é corromper a Justiça.
"Se você é advogado num processo criminal e entende que a polícia cometeu excessos/deslizes, você recorre ao juiz. Nunca a políticos!", escreveu. "Os que recorrem à política para resolver problemas na esfera judicial não buscam a Justiça. Buscam corrompê-la. É tão simples assim".
Na quarta (18), o presidente da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil), Marcus Vinícius Furtado Coêlho, defendeu os "direitos e prerrogativas" de advogados serem recebidos pelo ministro da Justiça, mas ponderou que a audiência precisa ser "transparente" e "pública".
"Não pode ser uma seleção deste ou daquele advogado. Tem que ser realmente uma questão aberta, impessoal, independente do caso que isso envolver", afirmou Furtado.
No Twitter, Barbosa disse que passou-se a falar que ele não recebia advogados enquanto era ministro do STF. "Recebi-os às centenas! Mas informava a parte contrária, para que ela pudesse estar presente, se quisesse", afirmou.
O ex-ministro afirmou que o processo judicial tem de ser transparente e dar igualdade de chances às partes. "No processo judicial não devem existir encontros ‘en catimini’, às escondidas, entre o juiz e uma das partes. Igualdade de armas é o lema".