A hora de acertar as contas

Dirceu Cardoso Gonçalves*
 
A indústria automobilística, que serviu de escudo para o governo transformar o tsunami da crise econômica mundial de 2008/9 na “marolinha” que o então presidente Lula previu para o Brasil naquela tormenta internacional, é a primeira a acusar a crise que hoje vive a economia nacional.
No ano de 2014, mesmo ainda vigorando a desoneração de impostos, foram produzidos 15,3% menos veículos que em 2013. Agora, com a volta do IPI aos patamares normais, a tendência é que o mercado se retraia ainda mais, até porque parte dos consumidores que aproveitaram a redução de impostos o fez através de financiamentos de longo prazo e ainda está endividada, sem possibilidade de trocar o veículo por um novo.
O mesmo processo deu-se com os eletrodomésticos, cujas vendas também estão em retração.
A indução de economia através do endividamento do consumidor foi uma temeridade cometida pelo governo. Serviu para dar fôlego à produção, mas trouxe problemas a grande número dos consumidores, levados a consumir mais do que podiam valendo-se de linhas de crédito alongado.
Deixou-se de enfrentar a crise como ela era para transferir seus efeitos para o momento de exaustão da capacidade do consumidor se endividar, que parece ter chegado.
Com os pátios lotados e as vendas em queda, as montadoras começaram agora o processo de demissão e enfrentam os trabalhadores, que fazem greve em busca da manutenção do emprego e principalmente de conquistas como estabilidade, PDVs e outras vantagens.
O setor, de orientação capitalista, reage e tenta contornar os problemas, mas o confronto com os empregados parece cada dia mais próximo. O próprio governo, oriundo do movimento sindical, já não pode mais fazer os favores e desonerações de antes porque o conjunto de economia vai mal. Ao que tudo indica, chegou a hora de beber do cálice amargo do ajuste e da arrecadação.
A presidente Dilma acabou levada a escolher uma equipe econômica de banqueiros, inimaginável para os padrões petistas de até bem pouco tempo e certamente não poderá fazer com seus novos auxiliares o papel intransigente que desempenhou com Guido Mantega.
As greves começam a pipocar e o discurso salvador do governo parece ter chegado ao seu limite. É preciso muito trabalho, comprometimento e patriotismo de todos os atores desse complicado teatro, para não botarem fogo no Brasil.
Há de se ter juízo e bom desempenho, lembrando que se em vez de Dilma tivesse vencido as eleições Aécio Neves, mercê do momento econômico mundial, não haveria procedimento muito diferente ao adotado na área econômica…