Aécio acusa Dilma de comprar parlamentares e colocar Congresso de “cócoras”

BRASÍLIA – O senador Aécio Neves (PSDB-MG) acusou a presidente Dilma Rousseff de colocar o Congresso Nacional de "cócoras" para o Palácio do Planalto ao insistir na votação do projeto permite ao governo não cumprir a meta de superávit fiscal deste ano. Em discurso inflamado na sessão do Congresso que votaria o projeto, ontem, o tucano disse que o Planalto "comprou" congressistas para tentar aprovar a matéria.
"Hoje a presidente coloca de cócoras o Congresso a estabelecer que cada parlamentar aqui tem um preço. Fala-se em R$ 748 mil. Essa é uma violência jamais vista nesta Casa", disse.
Aécio se referiu ao decreto editado por Dilma esta semana que condiciona a liberação de R$ 447 milhões para emendas individuais dos congressistas do Orçamento da União à aprovação da mudança na LDO (Lei de Diretrizes Orçamentárias) – que permite ao governo não cumprir sua meta de superávit.
O valor previsto para a liberação das emendas garantem uma fatia de R$ 748 mil para cada um dos 594 deputados e senadores.
O tucano foi derrotado por Dilma no segundo turnos das eleições para a Presidência da República, em outubro. Aécio listou, no discurso, diversas frases ditas por Dilma ao longo da campanha de que garantiu aos eleitores que o governo cumpriria sua meta fiscal em 2014.
"No dia 6 de agosto, a presidente disse: ‘acredito que teremos condições de cumprir o superávit previsto". Hoje, a presidente coloca de joelhos a sua base aliada. ‘Cortar o quê?’, disse ela em 25 de setembro. Infelizmente, não foi a verdade, a sinceridade, que venceram essas eleições".
CONFUSÃO – Deputados e senadores da oposição se revezaram na tribuna na manhã de ontem com discursos atacando decisão do presidente do Congresso, Renan Calheiros (PMDB-AL), que determinou o esvaziamento das galerias do plenário da Câmara – local onde a população é autorizada a acompanhar as votações.
A confusão começou na noite de terça-feira, quando seguranças tentaram retirar à força manifestantes aliados ao PSDB e DEM que protestavam contra a aprovação do projeto de Dilma sobre o superávit nas galerias.
Alguns seguranças imobilizaram populares, com trocas de tapas e empurrões.
Na manhã de ontem, a sessão começou com as galerias vazias e os manifestantes barrados por seguranças na entrada principal do Legislativo.
"Vossa Excelência está praticando uma afronta ao decoro parlamentar. Não pode trazer para si a prerrogativa de interpretar o regimento da Casa de acordo com o momento", atacou o deputado Ronaldo Caiado (DEM-GO).
Líder do PSDB, o senador Aloysio Nunes Ferreira (SP) também acusou Renan de não cumprir as regras do Congresso ao negar o acesso de populares às galerias do plenário, uma vez que a presença é assegurada pelo regimento interno do Legislativo.
"Diz o regimento que as galerias devem ser franqueadas ao povo. Cabe à Vossa Excelência zelar pela ordem dos trabalhos, mas não pode Vossa Excelência se sobrepor ao regimento. Não pode o PMDB desmentir sua tradição democrática nessa sessão. O povo está acotovelado na chapelaria da Câmara querendo entrar", disse o tucano a Renan.
Congressistas da oposição se encontraram com os manifestantes retidos na chapelaria, inclusive Aécio, que chegou ao Legislativo por essa entrada – embora diariamente faça a opção por outra entrada do Senado.

Manifestantes balançam carro de Sarney

O senador José Sarney (PMDB-AP) foi impedido, ontem, de desembarcar na chapelaria do Congresso, entrada principal do prédio, quando chegava para acompanhar a votação da manobra fiscal que o governo tentava aprovar para fechar as contas do ano.
Os manifestantes balançaram o carro do peemedebista e deram tapas na lataria. O senador ficou visivelmente assustado. Ele desistiu de descer no local e seguiu para outra portaria do Congresso.
A Polícia Militar e a Polícia Legislativa reforçou a segurança.
Mais cedo, manifestantes também cercaram o carro do vice-presidente da Câmara, deputado Arlindo Chinaglia (PT-SP), e cobraram a liberação das galerias do plenário.
Após ouvir gritos de "ditadura!, ditadura!", Chinaglia perguntou quanto os manifestantes estavam recebendo para permanecer no local. Irritado, o petista desistiu de desembarcar e se dirigiu a outra portaria.
Depois do episódio, o deputado reconheceu que reagiu de forma alterada. "Fui abordado por algumas pessoas de forma provocativa. Acusaram-me de tudo e mais um pouco. Cheguei ao limite e respondi de forma baixa", explicou o petista.