Consumo tem maior queda desde 2008

RIO DE JANEIRO – Num ambiente de juros maiores, preços em alta e crédito restrito, as famílias brasileiras reduziram seu ímpeto para consumir e, assim, contribuíram negativamente para a expansão da economia do país no terceiro trimestre.
Principal componente do PIB, o consumo das famílias caiu 0,3% de julho a setembro ante o segundo trimestre. Foi a maior queda desde o último trimestre de 2008, quando a crise internacional derrubou a atividade econômica do país como um todo.
Motor da economia nos últimos anos, o consumo das famílias cresceu apenas 0,1% no terceiro trimestre na comparação com o mesmo período de 2013. Nesse caso, trata-se da mais baixa taxa desde o terceiro trimestre de 2003, quando o país vivia uma crise no primeiro ano do governo Lula. No segundo trimestre, a alta havia sido de 1,2%.
DESALENTO – Os números, dizem economistas, já são reflexo de um mercado de trabalho cada vez menos vigoroso, com desaceleração da renda e do total de vagas criadas. A taxa de desemprego só se mantém baixa graças à menor procura por um trabalho, motivada pelo desalento.
"A grande novidade negativa [dos dados do PIB] veio do consumo das famílias, que desacelerou muito mesmo depois da Copa. Esse comportamento deve seguir em 2015, pois é reflexo da piora no mercado de trabalho, que apenas começou", afirma Sérgio Vale, economista-chefe da MB Associados.
Para Rebeca Palis, gerente do IBGE, o consumo das famílias sente o impacto da freada do crescimento da massa salarial, que "avança num ritmo bem menor", e do crédito restrito ao consumidor – cuja expansão já não supera nem sequer a inflação.
CRÉDITO EM BAIXA – Segundo o IBGE, o crédito subiu 5% em termos nominais, sem considerar a inflação. Ao levar em conta os índices de preço (o IPCA, índice oficial, está na faixa de 6,5%), as concessões de financiamentos, por tanto, estão em terreno negativo.
O consumo, sozinho, corresponde a 63% do PIB brasileiro. Por isso, qualquer movimento afeta o desempenho da economia do país.
Do lado da produção, o fraco consumo se refletiu em queda no comércio (1,8% ante o terceiro trimestre de 2013) e limitou a expansão do setor de serviços (0,5%).
Vinícius Botelho, da FGV, diz que o consumo deve se manter enfraquecido em 2015, num contexto de "continuidade do processo de freada da demanda interna" que levará a economia do país a crescer ao em torno de 0,5% no próximo ano.
O resultado poderá ser mais baixo a depender da estratégia adotada pela nova equipe econômica para ajustar as contas do governo e cumprir a meta anunciada de 1,2% de economia (superávit primário) usada para o pagamento de juros da dívida.
"O ano que vem será ruim para o consumo e a economia como um todo. Termos inflação alta graças ao represamento dos preços administrados, como da energia".