A gente não quer só comida…

*Adão Ribeiro

Por mais clichê que possa parecer, não encontrei outro título apropriado para falar sobre a Virada Cultural, no final de semana em Paranavaí. Principalmente com o grande (sim, grande) show do RPM, que nos levou a uma viagem aos anos 1980, em plena praça pública e de graça.
Paulo Ricardo e companhia são contemporâneos do não menos genial Arnaldo Antunes (então vocalista e compositor da fúria Titãs), que compôs o clássico “Comida”, em 1987 e imortalizou o verso “A gente não quer só comida”. Confesso que fiquei tentado a outro título, igualmente emprestado (ou plagiado), se referindo ao mesmo hit: “Você tem fome de que?”.
Feitas tais considerações, quero apenas elogiar a Virada Cultural. Ao contrário do que ouvi de alguns azedos, não se trata de jogar dinheiro fora ou fazer bagunça com verba pública. A Virada se mostrou tão essencial quando outras demandas do ser humano, que precisa satisfazer questões subjetivas para alcançar ou buscar a felicidade.
O direito a ter comida na mesa, por exemplo, ainda tão criticado por alguns, se revela agora no mesmo nível dessa necessidade. Ninguém é louco de dizer que é contra o direito inalienável de se alimentar, mas, uma parcela representativa da sociedade, faz biquinho na hora que vê a conta (não existe almoço grátis, dizem muitos, incluindo os críticos). E não tenhamos dúvidas: a conta é paga pela produção global do país, em outras palavras, por quem trabalha.
Não vejo nada de anormal nisto. O Estado só tem razão de existir se a preocupação for a satisfação integral do ser humano, inclusive dos sem recursos financeiros. Um mundo utópico talvez, exemplo que não se encaixa no caso da Virada Cultural, evento que se revelou algo bem palpável, refletido nos rostos felizes de pessoas de todas as idades. Pois, justiça seja feita, foi um evento familiar. Se o macarrão de domingo trouxe o alimento do corpo, a Virada alimentou a alma de todos nós.
Programação bem pensada, que contemplou os gostos e faixas etárias. Tivemos As Galvão, Erasmo Carlos, RPM e a atual A Banda mais Bonita da Cidade (momento diferente da carreira em relação aos primeiros), entre outros. Todos acrescentaram algo e, de tão importante no universo cultural, são clássicos, já imortalizados na história da arte brasileira.
Por fim, uma ressalva: Que as eventuais críticas não interrompam a Virada e nem o formato absolutamente popular. Tudo pode e deve ser aperfeiçoado, jamais interrompido. No ano que vem, haveremos de ter Virada Cultural, ainda mais múltipla e popular, respeitando, inclusive, o direito de não ir. Direito de ausência que não deve servir de desculpa para cancelamento. Liberdade é isso: acesso.