Nova tradução de texto católico atenua abertura aos gays

SÃO PAULO – Após a reação negativa de bispos conservadores ao relatório da Igreja Católica que sinalizava maior aceitação aos fiéis homossexuais, o Vaticano mudou a tradução inglesa do texto, atenuando as partes relacionadas aos gays.
A primeira versão do texto em inglês, divulgada na segunda-feira, trazia o item "welcoming for homossexual persons" (acolher pessoas homossexuais). Nesta quinta (16), o termo mudou para "providing for homossexual persons" (aceitar pessoas homossexuais).
A alteração só aconteceu na tradução do inglês. Em italiano, francês e espanhol, foi mantido o termo "acolher".
Outra mudança foi feita em trecho que fala sobre a união entre pessoas homossexuais. A primeira versão em inglês diz que ela pode ser "preciosa". A segunda diz que pode ser "valiosa". Também neste caso, os textos nas outras línguas continuou o mesmo.
O texto divulgado na segunda é o primeiro rascunho do relatório da Assembleia Extraordinária do Sínodo, reunião da Igreja Católica para definir posicionamentos em questões sobre família.
O porta-voz do Vaticano, Federico Lombardi, disse que as mudanças foram feitas após participantes de língua inglesa terem reclamado da tradução original. Ele enfatizou que o texto oficial é o italiano, língua oficial da igreja.
No entanto, a nova tradução foi criticada. "Eu sou italiano e isso não é uma tradução, é uma falsificação", disse o teólogo e historiador Massimo Faggioli, que está escrevendo sobre o sínodo.
REVISÕES – Durante esta semana, os participantes do sínodo realizaram discussões em grupos menores, para avaliar o primeiro rascunho do relatório. Nesta quinta foram publicadas as análises.
Se falou em "perplexidade" sobre a divulgação da versão inicial do relatório, já que se trata de um rascunho.
A avaliação também pediu mais ênfase às famílias que seguem as regras da religião, já que o primeiro texto parece se concentrar nas chamadas "situações familiares difíceis", como divorciados, casais não casados religiosamente e homossexuais.
No entanto, foi reiterado o caráter de proteção da dignidade de pessoas homossexuais, "apesar da impossibilidade de equiparar o matrimônio entre homem e mulher a uniões homossexuais" e "sem que pareça uma aprovação de sua orientação e sua forma de vida".
A última versão do relatório não definirá as posições da igreja. Mudanças efetivas só podem ocorrer em nova reunião em outubro de 2015.