Congresso está participando de “farsa”, diz FHC sobre repasse de “gabarito”
O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso cobrou ontem explicações da Petrobras e do Congresso Nacional sobre denúncia de que representantes da empresa petroleira receberam com antecedência as perguntas que lhe seriam feitas em CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) que investiga a compra da refinaria de Pasadena, no Texas (EUA).
Na avaliação do tucano, se for comprovado que houve o repasse antecipado do "gabarito", o Senado Federal participou de uma "farsa", que é, segundo ele, "inaceitável".
"A Petrobras tem de dar explicações e também o Congresso Nacional. Realmente o Congresso Nacional tem de se explicar. Se isso for assim, ele está participando de uma farsa, o que é inaceitável", criticou.
Para o tucano, quem se beneficia com o aparelhamento da Petrobras são os partidos aliados ao governo federal. "Não sei se o aparelhamento é a favor do governo federal, é a favor dos partidos", disse.
A revista "Veja" revelou no final de semana que a presidente da Petrobras, Graça Foster, o ex-presidente da petroleira Sérgio Gabrielli e o ex-diretor da empresa Nestor Cerveró receberam antecipadamente as perguntas que responderiam na CPI do Senado Federal.
A publicação também divulgou vídeo que flagra uma conversa entre José Eduardo Barrocas, chefe do escritório da Petrobras em Brasília, e Bruno Ferreira, advogado da empresa. Na conversa, os dois dão detalhes do acerto para antecipar as perguntas.
INIMIGO POLÍTICO – O ex-presidente participou ontem do Green Building Brasil 2014, uma conferência internacional de Meio Ambiente, promovida na capital paulista.
Na saída do evento, ele foi perguntado sobre a sua relação com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, com quem trocou críticas públicas na semana passada.
O tucano disse que não considera o petista um "inimigo político", mas considerou que o seu antecessor no Palácio do Planalto tem uma visão diferente sobre ele.
"Eu nunca considerei como inimigo político. Esse negócio de inimigo quem gosta é o Lula, o ‘nós e eles’. Nós somos todos brasileiros. Eu acho que ele é um concorrente e espero que ele veja as coisas assim. E não fique com essa ideia de ‘nós e eles’", disse.
Na avaliação do tucano, o petista teve mais sorte que a presidente Dilma Rousseff ao ter governado em um período com um cenário econômico mais favorável que o atual. De acordo com ele, o seu antecessor também é mais "hábil" com o Congresso Nacional que a atual presidente e "tem uma certa tendência" de se aliar com setores com os quais a petista não se aliaria.
O tucano defendeu que PT e PSDB deveriam atuar juntos para solucionar questões importantes para o país. Na avaliação dele, no entanto, não é essa a visão dos petistas. "Há certas questões que o povo precisa de todo mundo, que não dá para ficar fazendo picuinhas", criticou.