Punam-se os matadores e, também, seus mandantes

Dirceu Cardoso Gonçalves* 
Final e tardiamente chegou-se aos envolvidos na morte da vereadora Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes, alvejados há exato um ano no Rio de Janeiro. As autoridades dizem que isso é só o começo do deslinde do crime. 
O ideal é que se chegue de forma definitiva à raiz do fato, determinando quem decidiu abater a representante do povo, suas motivações, formas de ação, e que isso tudo resulte em severa pena. É o mesmo que se espera em relação à facada sofrida pelo presidente – então candidato – Jair Bolsonaro, em Juiz de Fora (MG). 
O caso só poderá se encerrado depois que todas as ligações do esfaqueador confesso, Adélio Bispo, estiverem esclarecidas e identificadas as possíveis participações de cada um no mando, logística, custeio e proteção ao criminoso.
A sociedade e o meio político brasileiro são permeados de dúvidas e narrativas sobre as mortes dos prefeitos petistas Celso Daniel (de Santo André) e Antonio da Costa Santos, o “Toninho do PT”, de Campinas, brutalmente assassinados anos atrás. 
Existem versões sobre corrupção, queima de arquivos e crimes paralelos que levaram ao abate de testemunhas e figuras do meio político e empresarial que pudessem trazer risco a poderosos supostamente envolvidos. Coloca-se, inclusive, em dúvida, a ocorrência de diversos acidentes aéreos onde pereceram políticos, autoridades ou possíveis testemunhas. Isso, além de destruir a imagem institucional, eleva o grau de suspeição e, por outro lado, torna a atividade de risco a política e as relações empresariais com os governos.
Espera-se que, da mesma forma que foi possível à Operação Lava Jato e suas paralelas identificarem os esquemas de corrupção e levar destacadas figuras ao cárcere, a investigação de crimes cometidos contra a vida de agentes públicos ou de pessoas a eles ligadas seja eficiente e desvende toda a teia que decidiu e executou os crimes. 
É dever da autoridade criar condições para as investigações e cobrar resultados para, ao final dos trabalhos, não restar dúvida quanto ao envolvimento dos que vierem a ser acusados. Só dessa forma é que a Justiça poderá aplicar a lei, atribuindo a cada um a pena equivalente ao seu grau de participação nos ilícitos.
Mais do que apontar supostos interessados nas mortes – de Marielle, Bolsonaro e de outras vítimas liquidadas ou atacadas por razões políticas – precisamos ter mecanismos para a apuração eficiente do efetivamente ocorrido e, com a certeza dos fatos, punir os responsáveis. Sem isso, é triste constatar a dura realidade de vivermos numa terra sem lei. Lei que existe mas não é cumprida, simplesmente, inexiste…
*Dirceu Cardoso Gonçalves, dirigente da Associação de Assist. Social dos Policiais Militares de São Paulo