Reação de Lula é “troço de doido”, diz ministro

BRASÍLIA – A avaliação feita pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva de que o julgamento do mensalão teve "80% de decisão política" gerou reações no Judiciário e entre integrantes da oposição. O ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Marco Aurélio Mello questionou a declaração, classificando-a como um "troço de doido".
"Não sei como ele tarifou, como fez essa medição. Qual aparelho permite isso? É um troço de doido", disse.
As declarações de Lula também foram rebatidas pelo procurador-geral da República, Rodrigo Janot, que chefia o órgão que foi responsável pela acusação contra os condenados no caso.
De acordo com ele, o mensalão foi encerrado após ter tramitado de forma transparente e objetiva, respeitando-se a ampla defesa.
Apesar disso, destacou que, numa democracia, todos têm o direito de criticar decisões da Justiça. A possibilidade de crítica também foi defendida por Marco Aurélio ao destacar que o ex-presidente exercitou o seu "sagrado direito de espernear".
"Só espero que esse distanciamento da realidade não se torne admissível pela sociedade. Na dosimetria [tamanho das penas] pode até se discutir alguma coisa, agora, a culpabilidade não. A culpa foi demonstrada pelo Estado acusador", disse.
À rádio "Jovem Pan" o ministro do STF Gilmar Mendes chamou a conta de "singular". "Nós não podemos esquecer que o presidente já pediu desculpas à nação pelo fato da existência da prática do mensalão. Agora, ele já disse outras vezes que o mensalão não existiu, que o mensalão foi parcial", afirmou.
No campo político, a oposição também criticou Lula. O pré-candidato à Presidência do PSDB, Aécio Neves, disse que, ao criticar o STF, o ex-presidente Lula "não faz bem à democracia" nem "honra a história de um homem que foi presidente".
O também pré-candidato à Presidência Eduardo Campos (PSB) evitou ataques diretos ao ex-presidente ao dizer que o mensalão é um assunto que já está superado pela sociedade. Apesar disso, ressaltou que, "em qualquer democracia do mundo", as decisões judiciais devem ser cumpridas, e não discutidas.
"Cem por cento da sociedade brasileira já discutiu e se posicionou sobre o mensalão", pontuou.

Aécio diz que Lula não "honra" cargo de ex-presidente ao criticar STF
Nome do PSDB para o Planalto, o senador Aécio Neves (MG) criticou a declaração dada pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva sobre o julgamento do mensalão.
O tucano disse que ao criticar o STF, o ex-presidente Lula "não faz bem à democracia" nem "honra a história de um homem que foi presidente da República".
Lula disse à rede RTP que o mensalão "teve 80% de decisão política e 20% de decisão jurídica". "Não entendo como ele chegou a essa contabilidade (…). É lamentável vermos um ex-presidente da República fazer afirmações que depõem contra o poder Judiciário, esteio da democracia brasileira", disse Aécio.
"Essa declaração não engrandece o currículo do ex-presidente. Pela importância do cargo que ocupou, ele deveria ser ele o primeiro a zelar pelo respeito às nossas instituições. Foi uma declaração infeliz", concluiu Aécio.
Aécio falou sobre o assunto após dar uma palestra a empresários da Associação Comercial de São Paulo. Em sua fala no evento, Aécio fez duras críticas à condução do governo da presidente Dilma Rousseff e ao PT. Segundo ele, esta administração "mercantilizou a gestão da política". Aécio repetiu diversas vezes que se sente "preparado" para assumir o país.