Há 85 anos povoado do início de Paranavaí virou Distrito Judiciário
Numa entrevista ao Diário do Noroeste publicada em 14 de dezembro de 1977, o saudoso desportista e comerciante de calçados Natal Francisco se referia à “cidadinha” que existia por estas terras em 1902.
“Naquela época já existia café na Cidadinha”, dizia ele, com base em informações verbais de aventureiros, quando veio pela primeira vez a Paranavaí, nos anos 1920-1930.
Quando voltou a Paranavaí, procedente de Presidente Prudente-SP, para se estabelecer no que era ainda a Fazenda Brasileira (nome do local assim conhecido por causa da Braviaco – Companhia Brasileira de Viação e Comércio, que tinha empreitada de colonização no Extremo-Noroeste), o “capitão” Telmo Ribeiro, homem forte do Governo de Manoel Ribas, o Mané Facão, já havia se estabelecido por aqui, se apossado de terras e constituído o atual Jardim São Jorge, conhecido como Cidadinha nesses tempos.
Nesse entremeio, através de acordos com o Governo do Estado, várias empreiteiras obtiveram terras no Norte do Paraná em troca da construção de ferrovias que visavam facilitar o transporte da população para ocupar os territórios vazios do Estado, diante da ameaça sempre presentes das invasões estrangeiras, especialmente do Paraguai, com o qual o Brasil (em aliança com Argentina e Uruguai) travou o maior conflito armado da América do Sul, entre dezembro de 1864 e março de 1870.
Uma dessas companhias foi a Braviaco (Companhia Brasileira de Viação e Comércio) que, em 5 de outubro de 1920, obteve o patrimônio da Estrada de Ferro São Paulo-Rio Grande, constituído pela Gleba Catanduvas (544.376 hectares), Gleba Ocoy (55.624 hectares), Gleba Piquiri (335.913 hectares) e Gleba Pirapó (250.000 hectares).
Esta última englobava o território do Extremo-Noroeste do Paraná, onde se situa Paranavaí. O termo de transferência da concessão ocorreu em 22 de novembro de 1920 e entre as obrigações ficava a Braviaco responsável pela construção da ferrovia entre Ponta Grossa-Lapa-Porto Amazonas e Guarapuava, como se refere o professor doutor José Carlos Alcântara no livro “Política Local – Um estudo de caso: Paranavaí 1952-1982” (1987: p. 30-40).
DISTRITO – Esses eram tempos em que corriam informações sobre as terras de ninguém. O Governo não chegava até elas, nem as companhias colonizadoras, o que despertava o sonho de muitos aventureiros. Era chegar, derrubar a mata, plantar e virar fazendeiro de gado, café ou algodão, principais culturas da época.
Tal idéia trouxe muita gente do interior de São Paulo, via Presidente Prudente, através de Porto São José, no Rio Paraná, e Porto Ceará, no Rio Paranapanema, para formar uma pequena vila por aqui, com maior concentração de casas no Jardim São Jorge atual. Foi o que os historiadores chamam de “colonização voluntária”.
Quando a Braviaco começou a demarcação das terras da concessão obtida na região, sob o nome de Gleba Pirapó, depois de 1925, já havia por aqui um vilarejo voluntário e a companhia se apossou dele como sede da Fazenda que ficou conhecida como “Brasileira”. Com o objetivo de cumprir os contratos que determinavam a abertura e implantação de colonos na região, a Braviaco decidiu buscar trabalhadores no Nordeste brasileiro, especialmente Bahia, Pernambuco e Ceará.
Na primeira leva de 300 trabalhadores veio Frutuoso Joaquim de Sales. Numa entrevista ao Diário do Noroeste em 14 de dezembro de 1977, Frutuoso, que residia no Jardim São Jorge, contava que “em 1929 a Brasileira já estava instalada e o pessoal (migrados do Nordeste pela Companhia) vinha aqui trabalhar, derrubar mato.
Eram 1.800 alqueires, sendo mil alqueires em café e 200 alqueires de invernada. Até 1930 havia na Fazenda cerca de 1.400 famílias de trabalhadores que habitavam casas em diversas colônias nas proximidades da Fazenda”, dizia ele ao
O crescimento da população local gerou novas necessidades, em termos de controle e organização. A sede do município era Tibagi, próximo a Ponta Grossa, mas a única rota conhecida então seguia pelo Porto São José ou Porto Ceará até Presidente Prudente-SP, seguia de trem para Assis-SP e Ourinhos-SP, como contava Frutuoso, e depois a cavalo voltava ao Paraná, via Cambará e Tibagi, num percurso de 600 km. Hoje, por rodovia, a distância é de quase 300 km entre Paranavaí e Tibagi.
O trabalho político para colocar a Brasileira no mapa foi concretizado pelo primeiro desbravador a comandar uma expedição de reconhecimento do município de Tibagi, que abrangia a área de toda esta nossa região, Edmundo Alberto Mercer (1º/08/1878-1º/08/1938), cuja história pode ser lida na edição de quinta-feira passada (10/04/1914) do Diario do Noroeste.
Ele se elegeu deputado distrital por Tibagi e apresentou um Anteprojeto de Lei que foi aprovado pela Assembléia Legislativa do Estado do Paraná e transformado na Lei 2.665 em 13 de abril de 1929 pelo qual criou o Distrito Judiciário de Montoya. A Lei foi publicada no Diário Oficial do Estado em 25 de abril de 1929.
O nome Montoya foi adotado porque o povoado não tinha um nome oficial (era conhecido apenas como fazenda da Companhia Brasileira) em homenagem ao padre Antonio Ruiz de Montoya que, no século 16, atuou como superior da Ordem da Companhia de Jesus, chamados jesuítas, na exploração e catequização dos índios guarani na Província do Guairá (atual Norte do Paraná).
VILA MONTOYA, O MAIS ANTIGO POVOADO
Montoya pode ser considerado o mais antigo povoado do Norte Novo do Paraná. Londrina irradiou os trilhos das ferrovias que levaram a expansão da colonização para todo o restante, mas esta cidade surgiu depois de Montoya, embora no mesmo ano de 1929, mas alguns meses depois. Londrina surgiu como primeiro posto avançado de um projeto inglês iniciado com a Missão Montagu. Na tarde do dia 21 de agosto de 1929, chegou a primeira expedição da Companhia de Terras Norte do Paraná – subsidiária da inglesa “Brazil Plantations Syndicate”, com sede em Londres, ao local denominado pelos fazendeiros paulistas e mineiros que já estavam na região como Patrimônio Três Bocas, no qual o engenheiro Alexandre Razgulaeff fincou o primeiro marco nas terras onde surgiria a cidade. O nome Londrina foi uma homenagem prestada a Londres – “pequena Londres”, pelo engenheiro João Domingues Sampaio, um dos primeiros diretores da Companhia de Terras Norte do Paraná, já então subsidiária da “Paraná Plantations”, que substituiu a “Brazil Plantations Syndicate”, que fracassou inicialmente no empreendimento devido aos preços baixos e à falta de sementes sadias de algodão no mercado, obrigando a uma mudança nos planos. A criação do Município ocorreu cinco anos mais tarde, através do Decreto Estadual n.º 2.519, assinado pelo interventor Manoel Ribas, em 3 de dezembro de 1934. Sua instalação foi em 10 de dezembro do mesmo ano.
(SB)