Pela fé, comunidade consagrou São Sebastião Padroeiro de Paranavaí
Muito antes de ser oficialmente criada pela autoridade religiosa católica a Paróquia de Paranavaí, a comunidade já havia consagrado o seu padroeiro: São Sebastião, cuja data é comemorada em 20 de janeiro.
A Paróquia de Paranavaí foi criada em 30 de novembro de 1949, desmembrada da Paróquia de Mandaguari por ato de dom Geraldo de Proença Sigaud (Belo Horizonte, 26/09/1909 – 05/09/1999), da ordem da Sociedade do Verbo Divino, então bispo (1947-1961) da Diocese de Jacarezinho, que tinha jurisdição sobre todo o Norte do Paraná, e depois arcebispo metropolitano da Arquidiocese de Diamantina-MG (1961-1980, quando renunciou ao múnus episcopal devido a idade e problemas de saúde).
Dois anos depois de criada a Paróquia foi instalada oficialmente, em 29 de agosto de 1951, e entregue à Ordem dos Carmelitas Descalços, representada então por frei Ulrico Goevert (Darfeld-Alemanha, 13/06/1902-Paranavaí, 26/10/1983), que veio de Recife-PE, onde já estava há 15 anos, e recebeu a nomeação de vigário.
O ato foi comemorado com uma Santa Missa no domingo, dia 2 de setembro de 1951, e oficializado pelo padre provincial da Ordem dos Josefinos em nome do bispo diocesano.
Antes da criação da Paróquia e chegada de frei Ulrico, os fiéis da cidade que hoje tem o nome de Paranavaí e da região eram atendidos por outros padres vindos esporadicamente de Mandaguari, que era sede do município.
A partir de 1926 já havia comunidade organizada na Gleba que pertencia à Comarca de Tibagi. Em 1929 foi criado o Distrito de Montoya, Gleba Pirapó (em, 1930), depois Fazenda Brasileira (a partir de 1931 até 1947, quando foi oficialmente adotado o nome Paranavaí) e, finalmente, Paranavaí.
Como era característica da época, a densidade populacional da região teve altos e baixos, picos de crescimento e quase extinção.
Não bastassem as invasões perpetradas por quadrilheiros, que condenavam e executavam sumariamente os contrários, ainda havia as epidemias: tifo, febre amarela, Leichmaniose (também chamada “úlcera de Bauru” ou “de Calabar”), que dizimava ciclicamente a população, doenças comuns a cães e humanos, contagiados por “mosquitos palha” ou “mosquitos birigui”.
Tais epidemias levavam os moradores a aprofundar-se na sua fé religiosa e nas crendices populares, apegando-se aos santos e aos deuses das suas crenças. A população eminentemente católica apegou-se ao santo protetor contra as pestes, a fome e às guerras: São Sebastião.
Assim, quando instalada a Paróquia, a crença em São Sebastião já estava instalada entre a população local há muito tempo, ainda perdurando e festejada com fé em Paranavaí, uma das 144 cidades brasileiras ou paróquias que o elegeram como padroeiro. A eleição, motivada pelo sentimento tradicional, foi uma decorrência de acontecimentos relacionados a determinadas situações vividas nas mesmas regiões.
Paranavaí viveu e sofreu toda sorte de acontecimentos que caracterizam a história da colonização e do pioneirismo. Foram marcantes o êxodo de 1929 e as epidemias, mormente a de 1944. Em todas elas a população pedia a proteção de Deus, Jesus Cristo e a Virgem Maria, bem como a proteção do padroeiro contra a peste, fome e guerra, São Sebastião.
Ao longo do tempo o Diário do Noroeste tem publicado entrevistas com pioneiros de Paranavaí. Numa dessas entrevistas, publicada em 14/12/1977, o pioneiro João da Silva Franco relatou o grande surto de Leichmaniose ou “doença de Bauru”, que quase dizimou o povoado em 1945.
Nascido em 13/05/1903, ele veio para a Fazenda Brasileira um ano antes, em 1944. João da Silva Franco dizia no seu relato publicado naquela edição:
“Aqui não havia médico nem farmácia. Era uma ilha isolada na mata virgem. A ferida era uma epidemia. Mandaram fazer um levantamento das pessoas feridentas para levar a Curitiba. No primeiro caminhão saíram noventa e tantas. Muitos morreram por lá, outros voltaram. Eu resisti – disse – lavava as feridas com água de peroba, água de guaiçara e fui melhorando. Mas chegaram a ameaçar. Quem não quisesse ir para Curitiba seria despejado daqui para fora. Fiquei porque não tinha com quem deixar a mulher e os filhos”.
A região foi assolada também pela varíola, no ano anterior, como lembrava em outra entrevista o administrador da Companhia de Terras, Hugo Doubeck, que chegou aqui em 1943 por determinação do Governo do Estado para colonizar a Fazenda Brasileira.
Doubeck era marceneiro, mas nos cinco anos em que aqui permaneceu, acabou se tornando administrador, conselheiro, médico, farmacêutico, enfim, fez de tudo, porque aqui não havia quase nada. Doubeck relatava que o primeiro morto por varíola foi levado para Londrina, porque aqui não havia cemitério. Recebeu uma reprimenda, porque a doença era temida, devido à possibilidade de contaminação.
O delegado de Polícia de Londrina, que tinha jurisdição sobre toda a região, de Londrina a Guaíra, inclusive Paranavaí, Acchiles Pimpão Ferreira, mandou enterrar o corpo e determinou que fosse feito um cemitério para que os mortos fossem enterrados aqui mesmo.
As constantes epidemias levaram o Governo a enviar ajuda para a Fazenda Brasileira: o enfermeiro Eurico Hummig era guarda-sanitário em Curitiba, depois o médico Pedro Vicentine, que pediu demissão e foi substituído pelo médico Aguilar Arantes. Hugo Doubeck contava em seu depoimento que a epidemia de Leichmaniose ou “úlcera de Bauru” matou muita gente e deixou muita gente marcada para o resto da vida: homem, mulher, criança…Muitos ficaram com as orelhas e os narizes deformados. Todos os dias eles atendiam “mais de 50 pessoas, e o médico foi experimentando os remédios que havia, até o tratamento começar a dar resultado”, relatava Doubeck.
Quando foi construída a primeira capela, São Sebastião já era muito popular por aqui, mercê das epidemias, das mortes motivadas pela disputa de terras, pelas crises econômicas, como a de 1929, pela inconstância da colonização, ora nas mãos de empresas particulares, ora nas mãos do Governo, e pela guerra mundial, dos anos 1939-1945. O santo foi adotado como protetor da população da Fazenda Brasileira com naturalidade e ficou.
A Paróquia de Paranavaí, que recebeu o nome de São Sebastião, foi oficialmente criada em 1949 e passada à responsabilidade dos freis carmelitas, como citado por frei Ulrico Goevert, seu terceiro pároco, no livro História e Memórias de Paranavaí, cujo resumo foi publicado no Diário do Noroeste de 14/12/2002 (o texto completo foi traduzido pelo então pároco, frei Wilmar Santin, atual bispo da Prelazia de Itaituba-PA).
Os pioneiros já professavam a fé cristã, mas não tinham a coordenação sacerdotal antes de 1944, apesar das insistências junto às autoridades eclesiásticas.
Somente em 14 de agosto de 1944 foi rezada a primeira missa, pelo padre palotino de origem alemã, Carlos Propst, que era vigário em Mandaguari. Pouco mais de um mês depois – em 17 de setembro de 1944 – veio designado o padre João Guerra, que se tornou carmelita descalço, que rezava missa a cada 15 ou 20 dias, e encabeçou a construção da primeira capela.
Reunidos os fiéis, foi fincado o Cruzeiro na esquina das atuais Avenida Distrito Federal e Rua Paraíba. Em entrevista o pioneiro José Ferreira de Araújo, o Palhacinho, republicada no Diário do Noroeste de 14/12/2002, ele relatava: “Fizemos o primeiro leilão da Igreja Católica na Fazenda Brasileira. Ganhamos a madeira do José Ebiner. O José Tereziano Barros, com o Nenê, fez a construção. Era pequena, que mal cabia o padre e um ou dois santos”.
A capela foi inaugurada com a Santa Missa de Natal em 1944, com os cânticos em alemão, dos catarinenses recém-chegados.
Logo concluíram que seria melhor a escolha de um local mais alto e a próxima construção se deu em frente à atual Igreja Matriz de São Sebastião, demolida na década de 60, depois da construção da Igreja maior, na Rua Antonio Felippe, também demolida após a construção da atual Matriz em alvenaria, e que deu lugar ao Centro Catequético.
Já com a atual denominação, Paranavaí recebeu o primeiro padre vigário nomeado oficialmente em definitivo: Joaquim Loureiro foi pároco de 1949 a 1951, substituído por Carlos Ferrer em 1951 e frei Ulrico Goevert, entre 1951 e 1965, responsável pela construção da atual Igreja Matriz, ao lado de frei Alberto Foerst, que depois foi promovido a bispo da Diocese de Dourados (Mato Grosso do Sul) e ao se aposentar em 2 de fevereiro de 2009 voltou para a sua terra natal, na Alemanha.
A Paróquia de Paranavaí foi criada em 30 de novembro de 1949, desmembrada da Paróquia de Mandaguari por ato de dom Geraldo de Proença Sigaud (Belo Horizonte, 26/09/1909 – 05/09/1999), da ordem da Sociedade do Verbo Divino, então bispo (1947-1961) da Diocese de Jacarezinho, que tinha jurisdição sobre todo o Norte do Paraná, e depois arcebispo metropolitano da Arquidiocese de Diamantina-MG (1961-1980, quando renunciou ao múnus episcopal devido a idade e problemas de saúde).
Dois anos depois de criada a Paróquia foi instalada oficialmente, em 29 de agosto de 1951, e entregue à Ordem dos Carmelitas Descalços, representada então por frei Ulrico Goevert (Darfeld-Alemanha, 13/06/1902-Paranavaí, 26/10/1983), que veio de Recife-PE, onde já estava há 15 anos, e recebeu a nomeação de vigário.
O ato foi comemorado com uma Santa Missa no domingo, dia 2 de setembro de 1951, e oficializado pelo padre provincial da Ordem dos Josefinos em nome do bispo diocesano.
Antes da criação da Paróquia e chegada de frei Ulrico, os fiéis da cidade que hoje tem o nome de Paranavaí e da região eram atendidos por outros padres vindos esporadicamente de Mandaguari, que era sede do município.
A partir de 1926 já havia comunidade organizada na Gleba que pertencia à Comarca de Tibagi. Em 1929 foi criado o Distrito de Montoya, Gleba Pirapó (em, 1930), depois Fazenda Brasileira (a partir de 1931 até 1947, quando foi oficialmente adotado o nome Paranavaí) e, finalmente, Paranavaí.
Como era característica da época, a densidade populacional da região teve altos e baixos, picos de crescimento e quase extinção.
Não bastassem as invasões perpetradas por quadrilheiros, que condenavam e executavam sumariamente os contrários, ainda havia as epidemias: tifo, febre amarela, Leichmaniose (também chamada “úlcera de Bauru” ou “de Calabar”), que dizimava ciclicamente a população, doenças comuns a cães e humanos, contagiados por “mosquitos palha” ou “mosquitos birigui”.
Tais epidemias levavam os moradores a aprofundar-se na sua fé religiosa e nas crendices populares, apegando-se aos santos e aos deuses das suas crenças. A população eminentemente católica apegou-se ao santo protetor contra as pestes, a fome e às guerras: São Sebastião.
Assim, quando instalada a Paróquia, a crença em São Sebastião já estava instalada entre a população local há muito tempo, ainda perdurando e festejada com fé em Paranavaí, uma das 144 cidades brasileiras ou paróquias que o elegeram como padroeiro. A eleição, motivada pelo sentimento tradicional, foi uma decorrência de acontecimentos relacionados a determinadas situações vividas nas mesmas regiões.
Paranavaí viveu e sofreu toda sorte de acontecimentos que caracterizam a história da colonização e do pioneirismo. Foram marcantes o êxodo de 1929 e as epidemias, mormente a de 1944. Em todas elas a população pedia a proteção de Deus, Jesus Cristo e a Virgem Maria, bem como a proteção do padroeiro contra a peste, fome e guerra, São Sebastião.
Ao longo do tempo o Diário do Noroeste tem publicado entrevistas com pioneiros de Paranavaí. Numa dessas entrevistas, publicada em 14/12/1977, o pioneiro João da Silva Franco relatou o grande surto de Leichmaniose ou “doença de Bauru”, que quase dizimou o povoado em 1945.
Nascido em 13/05/1903, ele veio para a Fazenda Brasileira um ano antes, em 1944. João da Silva Franco dizia no seu relato publicado naquela edição:
“Aqui não havia médico nem farmácia. Era uma ilha isolada na mata virgem. A ferida era uma epidemia. Mandaram fazer um levantamento das pessoas feridentas para levar a Curitiba. No primeiro caminhão saíram noventa e tantas. Muitos morreram por lá, outros voltaram. Eu resisti – disse – lavava as feridas com água de peroba, água de guaiçara e fui melhorando. Mas chegaram a ameaçar. Quem não quisesse ir para Curitiba seria despejado daqui para fora. Fiquei porque não tinha com quem deixar a mulher e os filhos”.
A região foi assolada também pela varíola, no ano anterior, como lembrava em outra entrevista o administrador da Companhia de Terras, Hugo Doubeck, que chegou aqui em 1943 por determinação do Governo do Estado para colonizar a Fazenda Brasileira.
Doubeck era marceneiro, mas nos cinco anos em que aqui permaneceu, acabou se tornando administrador, conselheiro, médico, farmacêutico, enfim, fez de tudo, porque aqui não havia quase nada. Doubeck relatava que o primeiro morto por varíola foi levado para Londrina, porque aqui não havia cemitério. Recebeu uma reprimenda, porque a doença era temida, devido à possibilidade de contaminação.
O delegado de Polícia de Londrina, que tinha jurisdição sobre toda a região, de Londrina a Guaíra, inclusive Paranavaí, Acchiles Pimpão Ferreira, mandou enterrar o corpo e determinou que fosse feito um cemitério para que os mortos fossem enterrados aqui mesmo.
As constantes epidemias levaram o Governo a enviar ajuda para a Fazenda Brasileira: o enfermeiro Eurico Hummig era guarda-sanitário em Curitiba, depois o médico Pedro Vicentine, que pediu demissão e foi substituído pelo médico Aguilar Arantes. Hugo Doubeck contava em seu depoimento que a epidemia de Leichmaniose ou “úlcera de Bauru” matou muita gente e deixou muita gente marcada para o resto da vida: homem, mulher, criança…Muitos ficaram com as orelhas e os narizes deformados. Todos os dias eles atendiam “mais de 50 pessoas, e o médico foi experimentando os remédios que havia, até o tratamento começar a dar resultado”, relatava Doubeck.
Quando foi construída a primeira capela, São Sebastião já era muito popular por aqui, mercê das epidemias, das mortes motivadas pela disputa de terras, pelas crises econômicas, como a de 1929, pela inconstância da colonização, ora nas mãos de empresas particulares, ora nas mãos do Governo, e pela guerra mundial, dos anos 1939-1945. O santo foi adotado como protetor da população da Fazenda Brasileira com naturalidade e ficou.
A Paróquia de Paranavaí, que recebeu o nome de São Sebastião, foi oficialmente criada em 1949 e passada à responsabilidade dos freis carmelitas, como citado por frei Ulrico Goevert, seu terceiro pároco, no livro História e Memórias de Paranavaí, cujo resumo foi publicado no Diário do Noroeste de 14/12/2002 (o texto completo foi traduzido pelo então pároco, frei Wilmar Santin, atual bispo da Prelazia de Itaituba-PA).
Os pioneiros já professavam a fé cristã, mas não tinham a coordenação sacerdotal antes de 1944, apesar das insistências junto às autoridades eclesiásticas.
Somente em 14 de agosto de 1944 foi rezada a primeira missa, pelo padre palotino de origem alemã, Carlos Propst, que era vigário em Mandaguari. Pouco mais de um mês depois – em 17 de setembro de 1944 – veio designado o padre João Guerra, que se tornou carmelita descalço, que rezava missa a cada 15 ou 20 dias, e encabeçou a construção da primeira capela.
Reunidos os fiéis, foi fincado o Cruzeiro na esquina das atuais Avenida Distrito Federal e Rua Paraíba. Em entrevista o pioneiro José Ferreira de Araújo, o Palhacinho, republicada no Diário do Noroeste de 14/12/2002, ele relatava: “Fizemos o primeiro leilão da Igreja Católica na Fazenda Brasileira. Ganhamos a madeira do José Ebiner. O José Tereziano Barros, com o Nenê, fez a construção. Era pequena, que mal cabia o padre e um ou dois santos”.
A capela foi inaugurada com a Santa Missa de Natal em 1944, com os cânticos em alemão, dos catarinenses recém-chegados.
Logo concluíram que seria melhor a escolha de um local mais alto e a próxima construção se deu em frente à atual Igreja Matriz de São Sebastião, demolida na década de 60, depois da construção da Igreja maior, na Rua Antonio Felippe, também demolida após a construção da atual Matriz em alvenaria, e que deu lugar ao Centro Catequético.
Já com a atual denominação, Paranavaí recebeu o primeiro padre vigário nomeado oficialmente em definitivo: Joaquim Loureiro foi pároco de 1949 a 1951, substituído por Carlos Ferrer em 1951 e frei Ulrico Goevert, entre 1951 e 1965, responsável pela construção da atual Igreja Matriz, ao lado de frei Alberto Foerst, que depois foi promovido a bispo da Diocese de Dourados (Mato Grosso do Sul) e ao se aposentar em 2 de fevereiro de 2009 voltou para a sua terra natal, na Alemanha.
(*SAUL BOGONI, jornalista, professor, mestre em Letras/UEM)