Esposas de presos reclamam de privilégio a mensaleiros

BRASÍLIA – José Genoino e Delúbio Soares, presos no complexo da Papuda, em Brasília, receberam na manhã de ontem visita de familiares e amigos. Do lado de fora do presídio, esposas de presos que já aguardam o momento para entrar no local reclamaram da diferença de tratamento.
A visita aos presos acontece às quartas e quintas-feiras, mas desde a madrugada algumas mulheres já se posicionam em frente ao portão de acesso da Papuda. A intenção é entrar o quanto antes para ter mais tempo com os maridos e filhos – o tempo da visitação é entre 9h e 17h.
Na manhã de ontem, familiares dos condenados no mensalão tiveram acesso ao local na companhia de parlamentares. "Eu não considero um privilégio. Direitos humanos é um padrão de todos e todas, independente do partido", disse o deputado Paulão (PT-AL), que visitou os petistas na manhã de ontem.
Ele contou que o líder do PT na Câmara, José Guimarães (PT-CE), irmão de Genoino, também foi ao local, além da esposa do deputado licenciado e seus três filhos. A mulher e o irmão de Delúbio também teriam visitado o ex-tesoureiro do PT.
"Ela tem que pegar fila como nós, passar pelas mesmas coisas que a gente passa", disse Patrícia (nome fictício), 32. Há 13 anos, ela visita o marido no local, preso por latrocínio.
"É muito constrangedor ficar aqui nessa situação", conta Camila (nome fictício), 22. Há três meses, ela visita o marido na Papuda. Já habituada às exigências para ingresso no local, ela leva numa sacola os itens que tem entrada autorizada: frutas, biscoito, sabão em pó, sabonetes, papel higiênico e pasta de dente.

Kátia Rabello e Simone Vasconcellos tomam banho de sol na Papuda
As duas mulheres presas no processo do mensalão, a ex-presidente do Banco Rural Kátia Rabello e a ex-funcionária de Marcos Valério Simone Vasconcellos, tiveram na manhã de ontem direito a banho de sol.
Anteontem, elas foram transferidas para o 19º Batalhão da Polícia Militar, também dentro do complexo da Papuda. Questionado, o comandante do batalhão afirmou que não poderia confirmar a identidade das presas "por questão de segurança". Segundo ele, as mulheres têm direito a duas horas diárias de sol.
De acordo com o STF (Supremo Tribunal Federal), Kátia Rabello foi condenada a 14 anos e cinco meses de prisão e Simone Vasconcelos a 10 anos e 10 meses. Ambas vão cumprir a sentença em regime fechado.
Conforme informou ontem a colunista Mônica Bergamo, da Folha de S.Paulo, Simone foi forçada a tirar da mala sutiãs com armação de metal ao se apresentar à polícia. Ela só pôde ficar com três livros (um romance e outros de apoio espiritual), antidepressivos, remédios para reposição hormonal e produtos de higiene pessoal.
O advogado de Simone, Leonardo Yarochewsky, criticou as transferências para Brasília. "Não entendo a necessidade de humilhar e de impor um suplício aos condenados, levados para longe da família". Anteontem, Yarochewsky entrou com pedido de transferência para que Simone cumpra sua pena em Belo Horizonte.