Curiosidade é o principal fator para o início do uso do crack

BRASÍLIA – Motivados principalmente pela curiosidade ou pela vontade de sentir os efeitos associados ao uso de crack e de outras formas similares de cocaína fumada – pasta-base, merla e oxi -, os usuários dessas drogas não se limitam a elas e fazem uso de diversas substâncias psicoativas. Entre as mais comuns estão o álcool e o tabaco.
A constatação está no levantamento Perfil dos Usuários de Crack e/ou Similares no Brasil, divulgado ontem pelos ministérios da Justiça e da Saúde. O objetivo da pesquisa, encomendada pela Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas (Senad) à Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), foi identificar as principais características dessa parcela da população, considerada de difícil acesso ou oculta.
De acordo com o levantamento, os dados evidenciam a necessidade de ações integradas de tratamento para o uso de crack e de outras drogas.
O estudo aponta que, além da curiosidade, há outros fatores determinantes para o início do consumo. Entre eles, a pressão de amigos, citada por 26,7% dos usuários e problemas familiares ou perdas afetivas (29,2%).
O preço do crack, menor que o da cocaína inalada, não é o motivo central para o início do consumo da droga, o que foi relatado por menos de 2% dos usuários. Na opinião dos pesquisadores, trata-se mais de um fator associado à manutenção do consumo uma vez que financiar o hábito demandaria menos recursos.
A pesquisa mostra que o tempo médio de uso dessas drogas é mais longo nas capitais, onde dura em média oito anos. Nos demais municípios, se estende por aproximadamente cinco anos, dado que sugere “que o uso da droga vem se interiorizando mais recentemente”.
Os pesquisadores ressaltam, ainda, que essa constatação contradiz as notícias comumente veiculadas segundo as quais “usuários de crack e similares teriam sobrevida necessariamente inferior a três anos de consumo”.
Os pesquisadores mostraram, também, que mais da metade dos usuários utilizam as drogas diariamente. Nas capitais, os usuários fumam, em média, 16 pedras por dia e nos demais municípios, 11 pedras

Pesquisa revela que maioria dos usuários de crack quer se tratar
O estudo Perfil dos Usuários de Crack e/ou Similares no Brasil mostra que 78,9% dos usuários da droga desejam se tratar. De acordo com o estudo, no entanto, é baixo o acesso deles aos serviços disponíveis, como postos e centros de saúde, procurados por apenas 20% dos usuários nos 30 dias anteriores à pesquisa; unidades que fornecem alimentação gratuita (17,5%) ou instituições que fazem acolhimento, a exemplo de abrigos, casas de passagem, e os centros de Referência de Assistência Social (Cras), buscados por 12,6% dos usuários.
O levantamento aponta ainda que aproximadamente metade dos usuários de crack e/ou similares já foi presa ao menos uma vez, sendo que 41,6% foram detidos no último ano. Entre os motivos da detenção, destacaram-se o uso ou posse de drogas (13,9%); assalto ou roubo (9,2%); furto, fraude ou invasão de domicílio (8,5%) e tráfico ou produção e drogas (5,5%).
Outro dado que chamou a atenção dos pesquisadores é que cerca de 10% das mulheres usuárias relataram estar grávidas no momento da entrevista. Além disso, mais da metade das usuárias de crack já haviam engravidado ao menos uma vez desde que iniciaram o uso da droga. “Trata-se de achado preocupante devido às consequências importantes do consumo do crack durante a gestação sobre o desenvolvimento neurológico e intelectual das crianças expostas”, apontam no texto.
A pesquisa indica, ainda, que 44,5% das mulheres entrevistadas relataram já ter sofrido violência sexual na vida, enquanto entre os homens o percentual foi 7%.