Famílias comprometem 42% da renda para saldar dívidas
Um dos principais responsáveis por esse endividamento é o uso do cartão de crédito sem o pagamento integral da fatura do mês – principalmente entre as famílias de classe C.
Os resultados estão em um estudo realizado pela Proteste Associação de Consumidores, para mapear o endividamento e discutir como é composta a dívida das famílias no país.
"A facilidade de obtenção de crédito, a falta de planejamento familiar e as altas taxas de juros praticadas pelo mercado impulsionam o endividamento", informa o levantamento realizado com 200 participantes de São Paulo e Rio que se reconheceram como devedores.
No estudo, foram consideradas dívidas vinculadas a financiamentos, crédito, compras parceladas em cartão de crédito, lojas e carnês. Aluguéis e contas de serviço (água, luz, gás e outras) não foram incluídas.
As famílias que participaram do estudo têm renda média de R$ 2.401 e declararam pagar em média R$ 1.009,45 – o que equivale a comprometer 42% da renda para quitar dívidas.
"As instituições financeiras têm grande parte da responsabilidade neste cenário ao estimular o uso do cartão de crédito, cujas taxas de juros foram as únicas a não ter reduções recentemente. Mantêm-se os juros estratosféricos que colocam a pessoa em uma situação de endividamento praticamente impagável", informa a entidade de defesa do consumidor.
ENDIVIDAMENTO POR CLASSE – Ao observar o comprometimento da renda para quitar as dívidas, o estudo verificou que o percentual da renda empenhado para pagar os débitos é ainda maior na classe C – chega 46,36%, quatro pontos percentuais acima da média.
As dívidas mais comuns são o parcelamento de compras no cartão de crédito, o parcelamento de faturas com os débitos do cartão e dívidas decorrentes de saques feitos com cartão de crédito.
Três em cada dez entrevistados afirmam que ainda não liquidaram nenhuma de suas dívidas ainda.
O valor das dívidas é inferior a R$ 500 para 56,6% das famílias. Mas para 38,8% está acima de R$ 5.000, segundo mostra o estudo.
Mais da metade deles têm dívidas de curta duração – períodos de até três meses. E 32% têm endividamentos (valores emprestados ou financiados) por mais de três anos.
Para quem devem
O levantamento aponta que, entre os dez maiores credores, estão cinco lojas – o que mostra que o crédito para o consumo é ainda um dos mais difundidos entre os entrevistados – e quatro instituições financeiras.
No ranking dos principais credores apontados no estudo estão: banco Itaú, Bradesco, Casas Bahia, Santander, pessoa física (o que indica que crédito informal também é uma fonte importante de empréstimo), Renner, Leader, Caixa Econômica Federal e Marisa.
LABIRINTO – De acordo com o estudo da Proteste, entre os que têm dívidas de valor mais elevado é comum fazer dívidas menores para tentar quitar o débito principal.
São 46,5% os que responderam que fizeram novo empréstimo para pagar uma dívida. Cerca de 10% dos entrevistados que se viram em situação difícil de endividamento tiveram de se desfazer de algum bem para amortizar ou liquidar a dívida. Entre os principais bens citados estão carro (57,1%), máquina de lavar, jogos eletrônicos e joias.
A maior parte dos entrevistados que se considera endividada acredita que conseguirá se livrar da dívida em um prazo de mais de 180 dias, considerado de médio prazo.
São poucos os que afirmam ter recorrido à Justiça, ao Procon ou a alguma associação de defesa do consumidor para negociar suas dívidas.
Entre os 11,5% que informaram ter recorrido, os principais motivos são cobrança indevida, juros abusivos e para retirar o nome do SPC e Serasa.
"As altas taxas de juros contribuem de forma significativa para a queda da qualidade de vida das famílias brasileiras", diz o estudo.
QUEM SÃO – A maioria dos entrevistados é composta por pessoas da classe C (60,5%). Outros 27,5% pertencem à classe B; 9,5 são da D. O restante (2,5%) são pessoas da classe A.
Dos 200 entrevistados, 26,4% têm de 45 a 54 anos, e 24,4% estão na faixa de 25 a 4 anos.
Deles, 64% são homens e 40,5% têm ensino médio completo. Setenta e nove por cento possuem renda de até cinco salários mínimos.
Desses consumidores, 47,5% afirmaram que têm caderneta de poupança. E, desse grupo, 51,6% têm o costume de poupar.
Mais da metade dos que participaram do levantamento (56%) afirma ter um ou dois cartões de crédito.
Calote do consumidor recua pelo 2º mês
A inadimplência do consumidor registrou queda de 1,5% em julho ante junho deste ano, segundo o Indicador Serasa Experian de Inadimplência do Consumidor divulgado ontem.
Esta é a segunda queda mensal consecutiva do indicador; em junho houve retração de 0,5%. É a segunda vez desde 1999, ano que o indicador foi criado, que o mês de julho registrou variação negativa. Na relação mensal, em julho de 2005, a queda foi de 3,9%.
Na relação anual – julho deste ano ante o mesmo mês do ano passado – a inadimplência apresentou alta de 10,5%. Esta alta, porém, foi a menor desde julho de 2010.
No acumulado do ano, a inadimplência do consumidor cresceu 17,8%, na comparação com o mesmo período de 2011.
De acordo com os economistas da Serasa Experian, em julho, normalmente a inadimplência do consumidor cresce por conta das compras parceladas do Dia das Mães, do Dia dos Namorados e dos gastos com as férias escolares. Este ano, no entanto, a inadimplência registrou queda, devido ao recuo no comprometimento da renda, aos juros mais baixos e aos lotes recordes de restituição do Imposto de Renda que colaboraram para o pagamento de dívidas, evitando a expansão da inadimplência naquele mês.
As dívidas com os bancos puxaram a queda do indicador em julho, com variação negativa de 4%. As dívidas não bancárias (cartões de crédito, financeiras, lojas em geral e prestadoras de serviço como telefonia e fornecimento de energia elétrica e água) também ajudaram para o recuo do índice com variação negativa de 0,8%.
A Serasa Experian aponta o crescimento dos cheques sem fundo e dos títulos protestados como fator que impediu a queda da inadimplência em julho. O número de títulos protestados cresceu 4,8%, enquanto e o de cheques sem fundos registrou alt