Com irrigação e outras práticas no campo, renda do produtor pode dobrar

A irrigação – aliada a um manejo adequado do solo e modelos conservacionistas de plantio – pode fazer com que o produtor rural dobre seu rendimento no campo, seja pelo aumento da produtividade ou por conseguir colocar no mercado produtos nos períodos de entressafra, tendo uma melhor remuneração.
A avaliação é do presidente do Sindicato Rural de Paranavaí (SRP) e vice-presidente da Federação da Agricultura do Estado do Paraná (Faep), Ivo Pierin Júnior, que na semana passada esteve na Cooperativa Holambra 2, no município de Paranapanema (SP) para conhecer o sistema e buscar informações sobre irrigação. 
A região é a segunda maior irrigada do país, consegue índices altíssimos de produtividade e tem até três safras ao ano.
A visita é mais um passo para a elaboração de um programa de apoio ao desenvolvimento da irrigação no Paraná proposto e reivindicado pelo Sindicato Rural, com o apoio da Sociedade Civil Organizada de Paranavaí, Cocamar e Sociedade Rural do Noroeste do Paraná. 
O pedido foi feito no dia 8 de março ao então governador Darci Piana e ao secretário de Estado da Agricultura e Abastecimento, Norberto Ortigara, que estiveram na cidade para a abertura da ExpoParanavaí.
Uma semana depois, o governador Ratinho Júnior reassumiu o cargo, visitou o mesmo evento e anunciou a redução dos impostos de equipamentos de irrigação. Na semana seguinte, Ortigara constituiu um grupo de trabalho para viabilizar o programa e definir como o governo pode incentivar e até subsidiar a irrigação no Estado. Este grupo terá a participação de representantes de Paranavaí.
Além de Pierin, visitaram a cooperativa e as lavouras irrigadas, dois técnicos da SEAB; um da Cocamar; Demerval Silvestre, diretor do Sindicato e um dos coordenadores da Sociedade Civil Organizada; e o diretor do Centro Tecnológico de Mandioca (CETEM), Claodemir Grolli.
Entusiasmados com o que viram, contaram que a irrigação é a base de uma tecnologia que, aliada a outras práticas, como correção do solo, adubação e plantio direto, garante um aumento substancial de produtividade.
Na terça-feira da semana passada, Pierin, durante uma reunião técnica, havia afirmado que numa propriedade em Amaporã, com a irrigação ainda em fase experimental, a colheita foi de 160 sacas de soja por alqueire, enquanto a média na região não chega a 100 sacas. Na quinta-feira, na região do Paranapanema, com a irrigação, constatou que a produção lá chega a 220 sacas por alqueire. “No mínimo, a produtividade será maior em 30%”, diz ele.
Os produtores da região do Paranapanema chegam a colher três safras ao ano. Numa das propriedades visitadas, o produtor colheu trigo em setembro, soja em janeiro e milho em junho. “É excepcional”, admira-se Silvestre.
IRRIGAÇÃO SERÁ BENÉFICA – Na avaliação dos paranavaienses, a irrigação seria benéfica para as principais culturas da região, como a mandioca, a laranja e as pastagens. 
Um dos maiores problemas enfrentados pelos mandiocultores é que no melhor momento para o plantio – junho, julho e agosto – costuma faltar chuva. Muitas vezes, o produtor prepara a terra e fica aguardando a chuva que às vezes não vem. 
“Com a irrigação, este problema acaba. A mandioca será plantada na hora certa e vai aumentar sua produtividade”, diz Grolli. “A irrigação vai otimizar a nossa produção”, complementa.
Na citricultura, na safra passada, os produtores tiveram problemas com a falta de chuvas: o fruto caia assim que começava a germinar. Os citricultores tiveram que usar tratores para jogar água nos pomares, num sistema adaptado de irrigação.
Na pastagem, a irrigação vai aumentar muito a capacidade de lotação. Atualmente a capacidade média de lotação na região é de quatro a cinco cabeças de gado por alqueire. 
Numa propriedade em Tamboara, onde é praticada a fertirrigação, a lotação é de 20 cabeças no mesmo espaço. “É certo que podemos aumentar em muito a nossa capacidade de produção de carne e leite”, sublinha Pierin.
“A irrigação vai garantir ao produtor o plantio na hora certa ou a antecipação e a água na quantidade e na hora certa na fase de desenvolvimento. Com isto, ele pode entregar sua produção mais cedo, com preços melhores, pois os concorrentes ainda estarão colhendo”, diz o diretor do CETEM.
A irrigação valoriza a propriedade
Além do aspecto de produtividade, a irrigação valoriza a propriedade. O custo de implantação da irrigação gira em torno de R$ 7 mil o hectare, que, por sua vez, passa seu valor dos atuais R$ 50 a 60 mil para R$ 120 mil, aponta Silvestre.
Os representantes do SRP, Sociedade Civil e CETEM estão otimistas em relação ao projeto de irrigação, até pela agilidade com que o Governo do Estado começou a trabalhar o assunto. Eles sabem que existem várias formas de o poder público apoiar o desenvolvimento da irrigação no Estado, como uma tarifa diferenciada na energia elétrica usada na irrigação, agilização no licenciamento da água a ser utilizada, linha de crédito com taxa de juro especial para o projeto entre outros. A redução de ICMS para os equipamentos já está garantida.
“A irrigação na região do Paranapanema começou há 33 anos, a cooperativa Holambra 2, e a ASPIPP (Associação do Sudoeste Paulista de Irrigantes e Plantio na Palha), que é especializada na sustentabilidade do sistema de irrigação, estão muito bem organizadas. O projeto de irrigação começou naquela região justamente por ser uma das mais pobres e hoje é exemplo de produtividade e geração de renda. É só olhar para as casas dos funcionários, tudo bem arrumadinha, que mostra que eles têm uma renda digna. E vamos trabalhar para que haja aqui a mesma transformação que aconteceu lá. Será uma nova revolução no campo”, diz Ivo Pierin Júnior.