Idosos ganham qualidade de vida e revelam sonhos surpreendentes
A intenção era ter apenas um “pequeno descritivo” para que fosse lido na hora que os candidatos à Miss e Mister Terceira Idade surgissem na “passarela” montada no hall de entrada do Centro de Convivência do Idoso (CCI), que promoveu o concurso em comemoração ao Dia Internacional do Idoso. Mas as comemorações se estenderam pelo mês todo.
Os candidatos e candidatas deveriam responder o que mais gostam de fazer, revelar um sonho e dizer o que o CCI representa na sua vida. Algumas respostas foram surpreendentes e reveladoras.
Uma mulher de 68 anos disse, por exemplo, que seu sonho é saltar de paraquedas, um homem de 67 anos gostaria de viajar de avião, outro, de 60, sonha em conhecer Portugal. Uma mulher, de 68 anos gostaria de visitar sua terra natal, o Ceará, já uma de 73 anos sonha em arrumar um companheiro e outra, de 77 anos, quer voltar a estudar.
Os sonhos variam. Uma mulher de 67 anos sonha em tirar sua carteira de habilitação para dirigir carros, já uma mais novinha, 61 anos (o CCI atende pessoas acima de 60 anos) quer aprender tocar violão.
Algumas declarações tocam mais fundo, como a da mulher de 62 anos, que diz que o CCI representa “tudo” em sua vida. Por que? “Porque aqui não somos invisíveis”. Ou a que diz que seu sonho “é ser reconhecida”.
Na vida de alguns, o Centro do Idoso é a própria razão da vida, como para a mulher de 80 anos que, questionada o que mais gosta de fazer, responde sem pestanejar: frequentar o Centro do Idoso. E o que o CCI representa na sua vida: um pedacinho do céu. Um homem de 70 anos, revela que “passei a gostar de viver” e agora sonha em concluir a construção da sua casa.
SONHOS EMPOEIRADOS – Para a psicóloga Greyce Regina Mingotti de Oliveira, os idosos vivem uma fase de contemplação, desfrutando um pouco daquilo que construíram ao longo da vida.
Com base na sua convivência no CCI, onde atua na oficina “Detox Emocional”, se reunindo uma vez por semana com os seis grupos que se inscreveram na atividade, ela diz que algumas dessas pessoas, “por questões financeiras, sociais ou pessoais não puderam estudar, se formar em algo, tiveram poucas escolhas ou poucas oportunidades e orientação para escolher na vida. Esses, encontram na terceira idade, tempo, liberdade e maturidade para entender que ainda e sempre é tempo para buscar algo novo, para aprender, para realizar sonhos”.
Ela considera “incrível” que a maioria dos candidatos ao concurso de miss e mister falaram que têm sonhos a realizar. “Muitas vezes sonhos que estavam esquecidos, empoeirados, guardados em uma caixinha esquecida no tempo, são despertados, relembrados agora. Acredito que os sonhos de viagens entrem nesse nicho, ficaram guardados e são agora renovados e voltam a lista de importância na vida deles. Os que sonham em viajar, entenderam que o que tinha que ser comprado, adquirido, conquistado, já foi, já se casaram, tiveram filhos, separaram, compraram, venderam, enfim, agora importa valorizar momentos alegres”, explica a psicóloga, que destaca, ainda que alguns “pedem apenas saúde e longevidade para contemplar as conquistas das próximas gerações”.
Greyce se entusiasmou com o que leu. “É lindo ver que estudar, desenvolver uma habilidade, encontrar um companheiro ou companheira, terminar ou obter a casa própria ou mesmo saltar de paraquedas ainda é almejado, sonhado por idosos”. E ela dá um testemunho forte: “Alguns disseram sonhar ganhar na loteria, não sabem que já ganharam!”, se emociona.
A psicóloga também analisa a relação dos idosos com o CCI. “Em tempos que idosos são pouco representados, mantem uma relação distante com as novas gerações, não tem mais um lugar de honra dentro da dinâmica familiar, no CCI eles são o centro de tudo, tudo o que acontece é pensado e preparado para eles, para seu bem-estar físico, emocional, mental e social. Como não querer estar nesse lugar?”, pondera.
Algumas respostas revelam que a vida moderna (o casal trabalha, os filhos estudam e os avós acabam ficando na solidão) afastou as novas da gerações mais antigas. Antes, ao hoje idosos eram o centro das atenções, fonte de recursos, mantenedores da casa. Hoje, diz Greyce, eles “querem apenas ser vistas ou reconhecidas enquanto alguém importante e que merece ser feliz. Isto é, me reconheçam pelo que sou, não apenas pelo que faço”, ensina ela.
VALEU A PENA – Se os idosos não escondem a felicidade pelo CCI, quem se diz ainda mais feliz é o idealizador da instituição, o empresário Maurício Gehlen, que através do Instituto que leva seu nome e com recursos próprios, construiu, adquiriu os equipamentos e mobiliários, montou a equipe de atendimento e é o mantenedor. O Centro de Convivência foi inaugurado em abril e começou atendendo 600 pessoas, já chegou a 800 e ano que vem a meta é chegar a 1.200.
Confrontado com a declaração de que “o CCI é um pedacinho do céu”, por uma idosa, ele diz que essa manifestação representa “o ápice da satisfação de alguém que investiu para cuidar dos idosos e dar atenção a eles. (…) É a realização total. Mais importante do que os recursos financeiros investidos são essas palavras de gratidão que essas pessoas têm comigo, com minha família, com os funcionários que lá estão se dedicando para dar essa condição de conviverem uns com os outros neste ‘pedacinho do céu’. Essa declaração é a prova de cada centavo investido valeu a pena”.
Ele também se emocionou com a manifestação de uma senhora de que ali ela não era invisível. Na sua opinião, esta postura é o reflexo do trabalho de “toda nossa equipe e das pessoas envolvidas com o CCI, que dão aos idosos essa forma de ver a vida, uma forma diferenciada, exatamente como o Instituto Maurício Gehlen propôs quando criou o CCI”.
Sobre a transformação que aconteceu na vida de várias pessoas que frequentam o Centro de Convivência, o empresário diz que já esperava por isso. Na avaliação dele a felicidade e o ganho de qualidade de vida dos idosos é ainda mais intenso que “no Japão, onde fui buscar inspiração para o CCI. Porque nos japoneses, que são mais contidos, era possível ver a alegria e a felicidade deles convivendo uns com os outros. E aqui, pela espontaneidade do povo brasileiro, eles estão aproveitando deste espaço de forma ainda melhor. E estou muito, mas muito feliz mesmo, porque é a realização de um sonho e ver os resultados positivos acontecerem. É a grande satisfação de acreditar e saber que isso deu a resposta que nós queríamos mesmo”.
Maurício Gehlen diz que este ganho de qualidade de vida pelos idosos já é reconhecido pelos familiares deles. “Temos muitos feedbacks de familiares dizendo que o seu avô, o seu pai ou sua avó, sua mãe é outra pessoa”. Ele também se sente satisfeito por seu empreendimento social ter se tornado exemplo para o Estado, já que o governador eleito Ratinho Júnior se comprometeu em construir 18 unidades do CCI em cidades do Paraná. “Isso enche a gente de orgulho, porque estamos sendo vistos como exemplos do bem para o Paraná”, finaliza ele.
Uma mulher de 68 anos
disse que seu sonho
é saltar de paraquedas,
um homem de 67 anos
gostaria de viajar de avião,
outro, de 60, sonha
em conhecer Portugal