Geração nem-nem já soma 11 milhões de jovens

BRASÍLIA – O número de jovens que não estudam nem trabalham (os chamados nem-nem) é alto, mas não se deve desistir, afirmam especialistas dedicados à questão.
A qualificação de jovens que vivem em abrigos para que tenham mais chances e deixem o universo dos nem-nem é o objetivo de projeto já aprovado pela Comissão de Assuntos Sociais (CAS).
Do senador Ciro Nogueira (PP-PI), o PLS 190/2017 garante a esses jovens o acesso gratuito e com prioridade aos cursos de educação profissional e tecnológica. Também estabelece cotas para a contratação de adolescentes abrigados em programas de jovens aprendizes.
O relator da proposta na CAS, Armando Monteiro (PTB-PE), acredita que a medida vai assegurar a educação e a entrada desses jovens no mercado de trabalho. “A proposição, a nosso juízo, foi muito feliz em perceber o quanto é desoladora essa realidade. E em oferecer os mecanismos necessários para sua superação”, afirmou.
O texto aguarda votação na Comissão de Educação (CE).
O alto índice de desemprego entre jovens é um problema mundial. Segundo a Organização Internacional do Trabalho (OIT), eles representam mais de 35% dos desempregados do planeta.
Nesse grupo, a diferença entre os gêneros é expressiva: as mulheres jovens respondem por 34,4%, enquanto os homens jovens são 9,8%. Na lista dos dez países europeus com mais jovens nem-nem, estão Grécia (39,1%), Espanha (33,4%), Itália (30,8%), França (20,4%) e Portugal (20,3%).
DIFICULDADES – No Brasil, 23% da população entre 15 e 29 anos de idade, ou mais de 11 milhões de jovens, não estudam ou trabalham. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), na pesquisa nacional por amostra de domicílios de 2012, os nem-nem eram 9,7 milhões, num universo de 49,4 milhões de jovens. De acordo com o instituto, entre 2016 e 2017, cerca de 619 mil se juntaram a eles.
Para a especialista em mercado de trabalho e professora da Faculdade de Administração da Universidade de Brasília (UnB) Débora Barem, o difícil cenário começou no momento em que muitas portas de emprego se fecharam, a renda diminuiu e, consequentemente, os jovens e suas famílias não conseguiram mais custear os estudos.
De acordo com a professora, muitos jovens ainda enfrentam dificuldades para definir em qual área desejam trabalhar, e isso se agrava pela falta de orientação dentro das universidades. “Apesar de o auge da crise econômica do país já ter passado, ainda estamos num momento muito ruim, em especial para essa faixa etária”.
SEM-SEM – O deputado distrital Professor Israel (PV) vai além: diz que, em vez de nem-nem, esses jovens deveriam ser classificados como “sem-sem”, pois estão sem oportunidades e sem acesso a estudo gratuito e de qualidade. Ele assegura que não se trata de filhos mimados, mas de pessoas que precisam de oportunidade, a fim de não se tornarem duplamente punidas.
“Estamos falando da realidade de mais de 11 milhões de jovens brasileiros, sendo que mais de 70% deles estão entre os mais pobres do nosso país. Mas o Brasil tem potencial para ser líder mundial em valorização desses jovens”, disse Professor Israel, que assumirá uma vaga de deputado federal em 2019.
PAPEL DA ESCOLA – Estudo do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) traz uma análise detalhada do mercado de trabalho no Brasil. Segundo o documento, 73% da geração nem-nem é formada por mulheres, tendo a gravidez precoce como principal causa. A pesquisadora do Ipea Maria Andréia Lameiras aponta ainda a falta de qualificação profissional como uma das dificuldades para que os jovens conquistem uma vaga.
“Uma das saídas para esse problema seriam cursos específicos, de curta duração e com objetivo mais determinado, a fim de qualificar essa mão de obra”, explica Maria Andréia.
O Brasil tem 3 milhões de pessoas desocupadas que estão procurando emprego há mais de dois anos, e cerca de 5 milhões de desalentados – aqueles em idade ativa que desistiram de procurar trabalho porque perderam a esperança. Segundo o Ipea, metade deles não completou o ensino fundamental, 25% estão na faixa etária de 18 a 24 anos e 60% moram no Nordeste.
A preocupação com a geração nem-nem foi demonstrada pelo relator da proposta que reformou o ensino médio (Lei 13.415, de 2017), o senador Pedro Chaves (PRB-MS). Na discussão do texto, no começo de 2017, o parlamentar disse acreditar que a mudança no ensino médio ajudaria a criar novos padrões para a plena realização dos potenciais dessa juventude.