Promotor classifica lixão da Vila Operária como “injustiça ambiental”

Um problema que se arrasta há décadas, o lixão da Vila Operária, em Paranavaí, é foco de preocupação da Promotoria de Meio Ambiente. Na noite de quinta-feira (20), o promotor de Justiça Robertson Fonseca de Azevedo se reuniu com a comunidade do bairro para uma conversa sobre a situação.
Avaliou que se trata de “um exemplo clássico do que se chama injustiça ambiental”. Quem mais sofre com o descarte irregular e constante de lixo no local são as pessoas com menor poder aquisitivo.
De acordo com Azevedo, o principal agravante é que são jogados todos os tipos de resíduos, por exemplo, seringas, materiais de construção civil, lixo doméstico e animais mortos. E os descartes vão se acumulando debaixo da terra, já que o “Município está enterrando tudo”, disse o promotor.
Ele explicou que não teve como objetivo acusar a atual gestão municipal, afinal, o chamado “Buracão do Caic” existe há aproximadamente 40 anos. Muitos prefeitos se comprometeram a encontrar outra finalidade para aquele espaço, mas os projetos não saíram do papel.
Sendo assim, enfatizou o promotor de Justiça, a intenção é ouvir a comunidade, conhecer a realidade de quem mora próximo ao lixão da Vila Operária e tentar, em parceria com a Administração Municipal, encontrar maneiras de resolver o problema.
POLUIÇÃO – Após o pronunciamento de Azevedo, professores do Instituto Federal do Paraná (IFPR) apresentaram informações científicas sobre os impactos do descarte de lixo de maneira desregrada. Falaram sobre poluição no ar, no solo e na água.
Os docentes Alexandre da Silva Avíncola, Ana Gaspari Giovanini e Vanessa Guimarães Alves Olher apontaram riscos que o lixão da Vila Operária oferece não somente para os moradores do entorno, mas para toda a população de Paranavaí e de municípios próximos. Segundo eles, as consequências poderão ser percebidas por muitos anos.
Em pesquisa de campo, a equipe do IFPR identificou como principal problema o lixo doméstico, que não pode ser jogado em local a céu aberto, mas precisa ir para destino apropriado. Também foram encontrados itens hospitalares, objetos cortantes, lâmpadas, pilhas, baterias, sapatos, roupas, móveis, galhos de árvores e muitos outros resíduos.
Todos esses dejetos são absorvidos pelo solo e vão para águas subterrâneas. Assim, tornam a terra improdutiva e contaminam o sistema hídrico que abastece a cidade. A qualidade do ar também fica comprometida. Além disso, a decomposição do lixo orgânico gera gás metano, que é altamente inflamável e aumenta o risco de incêndio.
COMUNIDADE – Ao fim das explicações, os moradores que participaram da reunião puderam expor opiniões e falar dos problemas que o lixão da Vila Operária provoca. Falaram do mau cheiro, da fumaça que os focos de queimada provocam, dos resíduos que o vento arrasta para fora do buracão.
O próximo passo, informou o promotor de Justiça, é organizar uma audiência pública para ampliar o debate e envolver o poder público municipal nas discussões. A expectativa é que os gestores se comprometam a elaborar projetos e a buscar recursos para dar outra finalidade ao “Buracão do Caic”.